| CRÍTICAS | Impacto Profundo

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No outro dia li na internet a lista dos dez filmes de ficção-científica de Neil deGrasse Tyson, o tipo que voltou a tornar a ciência cool desde Carl Sagan. Por entre as escolhas óbvias (olá O Dia Em Que A Terra Parou, olá Blade Runner – Perigo Iminente), as escolhas típicas dum cientista (olá Contacto) e uma semi-surpresa (olá Terra Tranquila), eis duas inesperadas (e discutíveis) opções.

E se de A Ilha não tenho dúvidas nenhumas, Impacto Profundo deixou-me a pensar. Afinal de contas, não o via desde que estreou no cinema. Será que me estaria a esquecer de alguma coisa? Decidido a acabar de vez com esta dúvida existencial, decidi aproveitar a conjugação de dois factores determinantes: uma tarde de domingo sem nada para fazer e o canal Hollywood.

É sabido que os blockbusters vêem sempre aos pares em Hollywood. E, em 1998, com a moda dos filmes-catástrofes, o ano ficou marcado por dois filmes sobre asteróides que ameaçavam destruir a terra. O primeiro foi Armageddon e o segundo Impacto Profundo. No entanto, enquanto o filme dos Aerosmith apostava tudo no fogo-de-artíficio e no exagero típico destes casos, este apostava mais numa abordagem realista e cientificamente credível (aqui também há astronautas a pôr bombas no asteróide, mas não há ninguém a fazer fogo no espaço sideral). Daí a preferência de deGrasse Tyson.

Resumindo: a Terra corre perigo de vida e, à medida que um asteróide gigante se aproxima, seguimos a vida de três personagens sem nada a ver uns com os outros. A do miúdo que descobriu pela primeira vez a rocha no espaço (Elijah Wood), a da jornalista com problemas com os pais divorciados que tenta dar o salto na carreira (Tea Leoni a recordar-nos, da pior maneira, o porquê de ter tido uma espécie de carreira tão fugaz quanto um cometa que cruza os céus) e o astronauta veterano (Robert Duvall) que comanda a missão de colocar umas bombas no asteróide, na tentativa de lhe mudar a rota.

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Apesar da ameaça de extinção da Humanidade, este filme-mosaico nunca deixa de se preocupar com as suas personagens, que ensaiam uma tentativa de drama pessoal com laivos de redenção (ou tearjerker, consoante os casos) final. A unir isto tudo há um Morgan Freeman a fazer de presidente dos Estados Unidos e a antecipar Barack Obama como primeiro presidente preto da América em uma década. Dispensável era a agenda escondida pró-católica: muitas loas a Deus e citações bíblicas perante a ameaça de fim do mundo, uma metáfora da Arca de Noé e, no final, Elijah Wood a ter uma projecção messiânica no seu destino de repovoar a América.

Infelizmente, para um filme-catástrofe, Impacto Profundo tem um CGI manhoso, apesar de cumprir as quotas normais deste tipo de filme: as Torres Gémeas a colapsarem três anos antes do 11 de Setembro e, claro, a inevitável estátua da Liberdade a rolar por terra. No entanto, aquele plano final do Capitólio em reconstrução merecia um CGI melhorzinho. Lamento deGrasse Tyson, afinal Impacto Profundo é tudo aquilo que me lembrava. Ou seja, um dispensável Double Cheeseburger.double-cheese
Título: Deep Impact
Realizador: Mimi Leder
Ano: 1998

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