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Em Copenhaga, em plena capital dinamarquesa, existe um bairro chamado Christiania que é autogerido, com um estatuto próprio. É um dos locais mais visitados no país e, se bem que na maior parte das vezes é mais conhecido por ser tolerado o consumo de ganza no seu interior, acaba por ser um das mais antigas e bem sucedidas comunas do mundo ocidental. Além dessa, existe outra comuna em Copenhaga: a da casa de Erik, uma mansão que lhe calhou em herança nos anos 60, em pleno flower power, e que, para ajudar nas despesas, decidiram transformar em comuna. A diferença entre uma e outra é apenas uma: Christiania existe mesmo e Erik só existe no novo filme de Thomas Vinterberg.

Erik (Ulrich Thomsen), a sua esposa Anna (Trine Dyrholm) e a filha Freja (Martha Sofie Wallstrøm Hansen) juntam os amigos de longa data e passam a viver numa comuna que tem tudo para dar certo. Mas a probabilidade de tudo da errado é proporcionalmente errado. E quando Erik troca Anna por uma aluna bem mais nova (Helene Reingaard Neumann) e decidem que ela vai viver lá par casa também, percebemos que o filme não é sobre a comuna, mas antes sobre as relações humanas em geral e sobre aquele triângulo que se gera em particular.

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É como se a primeira metade do filme, em registo feelgood movie, fosse só um engodo para nos atrair para o resto. Cai o retrato de experiência social e A Comuna toma outra direcção. No entanto, parece nunca se decidir sobre qual o caminho que realmente quer seguir. Ao início parece que vai pelo caminho do doppelgänger, quando Anna começa a soçobrar psicologicamente perante aquela mulher que mais não é que um reflexo mais jovem de si própria. Mas Vinterberg não tem nada de Polanski e isso fica-se só pela aparência (ou pela intenção, não se percebe). A determinado momento também é a filha, Freja, que parece ser a pedra de toque dessa história, numa espécie de coming of age forçado, mas também não é por aí que o filme vai. No final, chega-se ao fim e A Comuna nem é peixe nem carne.

Depois do anterior A Caça, Thomas Vinterberg voltou aos radares do reconhecimento público. E devido a essas expectativas elevadas, A Comuna sai prejudicada. É que este filme é uma espécie de Vinternerg menor e, por vezes, até anónimo, mesmo que por vezes encontremos alguns sinais do seu melhor cinema. A Caça também era, de certa forma, um filme sobre os efeitos de viver em sociedade, numa pequena comunidade, e as cenas mais importantes de A Comuna passam-se sempre há hora da refeição, numa espécie de jeu de massacre, lembrando-nos logo de A Festa. Mas este Double Cheeseburger fica a milhas de distância desses dois exemplos maiores da filmografia do realizador dinamarquês.double-cheeseTítulo: Kollektivet
Realizador: Thomas Vinterberg
Ano: 2016

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