| CRÍTICAS | Hardcore

Quem cresceu na viragem dos anos 80 para os 90 perceberá o que vou dizer: durante algum tempo na vossa vida, o Doom foi a melhor coisa jamais inventada desde o pão fatiado. Já todos nós tínhamos jogado Wolfenstein 3D, mas Doom trazia os jogos de computador para outro nível. Nós, que erámos todos feras a “programar” em MS-DOS, que já tínhamos descartado os spectrums, mas ainda estávamos longe da revolução das consolas, víamos em Doom o futuro a chegar-nos às mãos.

Desde aí, os first-person shooters tornaram-se num dos géneros mais populares dos jogos de vídeo, tendo saído milhares de títulos, uns mais inconsequentes que outros. Mas Doom manteve sempre um lugar especial no nosso íntimo. Até que em 2005, alguém adaptou o jogo ao cinema. Os nossos corações palpitaram, mas por pouco tempo, já que Doom – Sobrevivência tinha pouco de interesse. Como seria de esperar, diga-se. Mas havia lá um momento giro, em homenagem ao jogo, em que víamos o filme do ponto de vista do protagonista, como um first person shooter, e que fazia com que o filme não fosse cem por cento inútil (além disso, serviria sempre de mau exemplo também, eu sei).

E agora, uma década depois, eis que surge Hardcore, um filme realizado todo como se fosse um first person shooter. É certo que não é um truque inédito, já antes tivemos A Dama do Lago e A Arca Russa Assim. Mas é a primeira vez que vemos o POV assim. Ou seja, como um anúncio de televisão ou… um jogo de computador. Em que o protagonista corre, salta, mata, dispara, cai, tropeça, continua… Até nos deixar cansados e sem fôlego. E com uma grande dor de cabeça, se não for dos que aguenta a câmara a mexer constantemente.

Hardcore é altamente escapista e não procura grande sofisticação. Para o realizador, o russo Ilya Naishuller, a única coisa que interessa no filme é excitação e adrenalina. Em doses de cavalo. Como se tivéssemos veneno no sangue (viram como fiz um trocadilho divertido e inteligente com Crank – Veneno no Sangue, um primo não muito afastado deste Hardcore?).

Acordamos (sim, assim na primeira pessoa, porque nós, o espectador, somos o protagonista do filme) então para a vida, depois de termos sido ressuscitados. A nossa esposa (Danila Kozlovsky) explica-nos que fomos ressuscitados como ciborgues e… BUM, um tipo com poderes telecinéticos e um penteado duvidoso rebenta com a porta e temos que fugir. Correr. Matar. Lutar. Numa correria desenfreada, com muito parkour, muito gore e muitas habilidades arriscadas. Por vezes nem percebemos bem o que se está a passar, mas é sempre espectacular. É um McRoyal Deluxe cheio de anfetaminas e aquelas coisas todas que fazem mal e nós sabemos, mas não nos importamos, mas aposto que quando o rever esta classificação vai cair drasticamente.

Título: Hardcore Henry
Realizador: Ilya Naishuller
Ano: 2015

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