| CRÍTICAS | Blue Valentine – Só Tu e Eu

Em todas as sagas de super-heróis surge um momento em que, invariavelmente, a falta de imaginação irrompe. Nessas alturas há sempre alguém que não aguenta a pressão e, em desespero, activa a opção “realidade alternativa”, onde o herói voa para uma dimensão onde tudo é o oposto da nossa e onde tem que enfrentar uma versão malvada dele próprio. Aconteceu ao Homem-Aranha, ao Super-Homem e a uma série deles. Apenas Jerry Seinfeld pôs o dedo na ferida: se na dimensão alternativa tudo é ao contrário, então o duplo do Super-Homem seria um tipo preto, que não voava, lingrinhas e que não sabia escrever.

Toda esta introdução apenas para explicar que Blue Valentine – Só Tu e Eu é um romance saído de uma realidade alternativa da nossa. Ou seja, é uma história de amor, sobre um casal que se apaixona loucamente, passa por algumas situações difíceis e vivem felizes para sempre… até se fartarem um do outro e se descasarem. Tal e qual como na vida real. Blue Valentine – Só Tu e Eu é um caso raro que conta o que se passa aos romances após o habitual e viveram felizes para sempre

Blue Valentine – Só Tu e Eu é ainda o verdadeiro filme indie, que nos relembra o tempo em que ver cinema independente era ver filmes fora dos moldes convencionais, situando-nos nas margens do que habitualmente assistimos. É isso que faz de Blue Valentine – Só Tu e Eu um filme tão desconfortável, já que nos identificamos mais com ele do que desejaríamos. Todos preferimos antes acreditar nas fábulas de príncipes e princesas encantadas, mesmo quando estas terminam de forma trágica.

Mas Blue Valentine – Só Tu e Eu não é só a parte má, tem também o início da história, quando Ryan Gosling e Michelle Williams eram jovens e tudo era um mar de rosas. É o momento Antes Do Amanhecer. A novidade é que o realizador opta por contar o passado e presente de forma entremeada, aproveitando para colocar em contraste o antes e o depois, o amor e o desprezo, o respeito e o despeito, fazendo assim de Blue Valentine – Só Tu e Eu um filme de ambivalências.

Por fim, Blue Valentine – Só Tu e Eu é também um filme de (grandes) actores. Ryan Gosling havia começado a sua afirmação alguns anos antes com Half Nelson – Encurralados e Michelle Williams, que já tinha estado bem em O Segredo De Brokeback Mountain, prova que não é só choradeira. Quem a viu em Dawson’s Creek e quem a vê agora… Williams precisa de uma consagração qualquer, correndo o risco de passar ao lado de uma grande carreira e ficar lembrada apenas como drama queen que chora por tudo e por nada.

Resumindo e baralhando, Blue Valentine – Só Tu e Eu tem uma fala que sintetiza todo o filme: os homens são mais românticos que as mulheres. Eles casam-se com aquela que acreditam poder (querer?) suportar até ao fim das suas vidas, enquanto que elas nunca conseguem apagar a ideia de encontrar um príncipe perfeito num cavalo branco, acabando por casar como menos mau, na esperança de os conseguirem mudar a seu gosto. E depois não o conseguem (claro) e cansam-se. São eles que o dizem, não eu. Aqui só julgamos com hamburguesas. E o veredicto para estetítulo é um Le Big Mac.Título: Blue Valentine
Realizador: Derek Cianfrance
Ano: 2010

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