| CRÍTICAS | Prevenge

Há um anúncio a fazer as rondas das redes sociais e canais em sinal aberto que diz que as mulheres precisam de ter atenção ao relógio biológico e que toca a pôr bebés cá para fora. Porque, no final de contas, nada mais somos do que sacos amnióticos com pernas, com um objectivo de vida definido pelo nosso género, que é aumentar a natalidade do nosso país a todo o custo, mesmo que isso interfira com o nosso plano pessoal de vida.

Prevenge, escrito, realizado e protagonizado por Alice Lowe, é a resposta perfeita a esse anúncio. Ruth é uma mulher à beira de um nascimento na ambulância a caminho do hospital, que resolveu passar os últimos meses de gestação a perseguir e matar todos os envolvidos na morte do seu parceiro e pai póstumo da criança. Inspirada não só pelas suas hormonas galopantes mas pela voz do embrião dentro de si, Ruth é uma senhora grávida com uma missão, uma espécie de Noiva (se a Noiva tivesse acordado antes de parir a filha) à la Kill Bill, uma mestre do disfarce e do sarcasmo.  Sem reservas, Ruth acha que a Mãe Natureza é uma cabra e não vê nada de mal em livrar o mundo de um grupo de pessoas más e egoístas (a verdade, como descobrimos no fim, é ligeiramente mais complicada que isso).

A experiência com baixo orçamento de Lowe é mais que óbvia e Prevenge está destinado a ser um daqueles filmes de culto, comparável a Shaun of the Dead e Carne Humana Precisa-se, que relembraremos e citaremos ad nauseam de cada vez que Lowe lançar um novo blockbuster cheio de interferência dos estúdios e sei lá mais quê. Afinal de contas, ouvi dizer que andavam à procura de um novo realizador para o Homem-Morcego ou lá como aquilo se chama… Por enquanto, deixemo-nos adivinhar como seria traduzido se fosse distribuído em território português (Olha quem Esfaqueia Agora? Grávida e Tarada?) e rir às gargalhadas enquanto violência sem nexo enche o ecrã à nossa frente. Ahahahah, ela cortou-lhe os tomates, fantástico. Muhahahahah, partiu-lhe a cabeça com o troféu. Er… não, não faças mal ao Josh. O Josh é boa pess – ok, pronto, teve de ser. Não te esqueças das consultas de natalidade.

O facto de Lowe nos ter dado esta pérola enquanto estava efectivamente super-grávida (nope, não é uma barriga falsa) dá-nos esperança a todas nós, entidades que existem só como repositórios de esperma e parideiras, de que talvez seja possível ter uma carreira criativa apesar dos nossos relógios biológicos – nem que tenhamos de fazer arte acerca desses mesmos relógios. Entre realizar um slasher movie como Prevenge ou pintar as paredes do quarto da criança com imagens do Frozen: O Reino do Gelo, as alegrias da maternidade estão cada vez mais ecléticas. E, por tudo isto e mais alguma coisa, Prevenge é um Le Big Mac com batata e bebida grande.Título: Prevenge
Realizador: 
Alice Lowe
Ano: 2016

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