| CRÍTICAS | Vedações

Depois de toda a polémica em redor de um suposto whitewashing no ano passado, estava mais do que visto que a Academia não iria facilitar nesta edição dos Oscares. No entanto, ninguém estava era à espera que uma eleição presidencial inesperada viesse causar tanto ruído que abafasse esta situação (e o próprio Jimmy Kimmel brincou com a situação durante a cerimónia e tudo).

Vedações é então um dos três filmes sobre a América negra que estavam nomeados para o Oscar de melhor filme, nesta edição que passou dos Oscares. Realizada e protagonizada por Denzel Washington (que assina aqui o seu terceiro trabalho por detrás das câmaras), Vedações é a adaptação cinematográfica da peça da Broadway homónima (que o próprio Denzel e Viola Davis deram corpo na última encenação), escrita por August Wilson, especialista nestas questões da história da negritude norte-americana.

O filme é então a história de uma família afro-americana nos Estados Unidos dos anos 50 e como esse legado afecta as relações interpessoais, as profissionais e o próprio contexto socio-cultural. Vedações é como uma espécie de um romance de Fyodor Dostoevsky, mas com afro-americanos em vez de russos. Denzel Washington é o patriarca desta família e centro gravitacional de toda a história, em redor do qual giram as personagens secundárias e os sub-enredos. Denzel é um pai de família autoritário, marcado pelo racismo e pelo ser negro na América dos anos 50; e a cerca que vai adiando levantar no seu quintal funciona como uma metáfora da vedação que construiu em redor de si próprio e que não deixa mais ninguém entrar. Ou será que foi erguida para não deixar ninguém sair?

Independentemente da força do texto, que Denzel e Viola Davis encarnam com a força necessária (e Viola Davis fa-lo já de olhos fechados), Vedações é apenas uma espécie de teatro filmado, no pior sentido da palavra. Não é um filme estático como era, por exemplo, O Quinto Império de Manoel de Oliveira, mas é um filme limitado basicamente a um espaço, de onde entram e saem as personagens como num palco. No fundo, é o mesmo que Roman Polanski tem feito nos últimos tempos (com Vénus de Vison e O Deus da Carnificina), mas ao contrário desses, Vedações dá sempre a sensação de que se quer libertar daquele espartilho e voar mais alto. E Denzel Washington limita-se a filmar o texto numa escala convencional de tarefeiro anónimo, apostando tudo na pertinência da palavra e descurando o objecto cinematográfico. O que faz de Vedações um Cheeseburger frustrante.Título: Fences
Realizador: Denzel Washington
Ano: 2016

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