| CRÍTICAS | Um Sonho Possível

Depois de ter sido durante anos a fio uma das namoradinhas da América, Sandra Bullock começou a envelhecer. E quando isso acontece, apenas restam uma de duas opções. Ou ignora resilientemente essa passagem do tempo e continua a fazer filmes patéticos sob o corpo que já não tem, acabando em desespero por apostar tudo num thriller porno-friendly sem qualquer sentido que nos tentam vender como arthouse (olá Meg Ryan, como estás?); ou assume a maturidade e tenta fazer a passagem para os filmes sérios. Obviamente que para isso é necessário provar que sabe representar e que a sua carreira até há data não aconteceu apenas pelos dois palminhos de cara.

Sandra Bullock parece ter apostado neste segundo caminho (ainda bem para ela) e Um Sonho Possível parecia ser o início do resto da sua carreira, já que lhe valeu o Oscar de melhor actriz. No entanto, exceptuando o Gravidade, nunca mais fez nada de relevante desde então. O que nos faz fcar na expectativa, sem perceber ainda o que é que lhe vai acontecer. Mas vamos entretanto a Um Sonho Possível.

Este é um drama desportivo, género que os norte-americanos tanto gostam, em redor de um daqueles desportos que só eles é que entendem. É a história de Michael Oher, defesa de futebol americano que contornou uma infância de abandono e pobreza para se tornar num dos mais bem-sucedidos atletas da modalidade. No entanto, não é preciso perceber alguma coisa de futebol americano para se ver Um Sonho Possível, como acontecia ligeiramente com Moneyball – Jogada de Risco (outro nomeado aos Oscares dentro do mesmo género), porque o filme pouca atenção dá ao atleta. Aqui é Sandra Bullock a estrela e todo o filme roda em seu redor.

Não é de admirar que o verdadeiro Oher não tenha gostado do filme. Afinal de contas, ele é retratado como um coitadinho que só começou a jogar à bola verdadeiramente quando Sandra Bullock interrompeu um treino e lhe deu um sermão(!). O que não tem mal nenhum se tomarmos Um Sonho Possível como um feelgood movie e acreditarmos que as situações de humor não são tão involuntárias quanto parecem. Porque senão isso faria de Um Sonho Possível um filme constrangedor.

Sandra Bullock é então a ricaça com tiques de Donald Trump e habituada a brincar à caridadezinha, que adopta Michael Oher contra toda a desconfiança dos seus amigos e vizinhos e contribui para o seu sucesso. Em modo Julia Roberts circa Erin Brockovich, Sandra Bullock lança os foguetes, apanha as canas e ganha o dia, num filme altamente formulaico, que se esforça (e consegue) por utilizar todos os clichés do underdog que vence na vida pelo desporto. Um Happy Meal altamente dispensável, que nos faz lembrar porque é que não devemos levar muito a sério os Oscares.Título: The Blind Side
Realizador: John Lee Hancock
Ano: 2009

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *