| CRÍTICAS | Paraíso

Vi o poster de Paraíso na parede do cinema onde costumo ir e aproximei-me para ver o que era. Realizado por Andrey Konchalovsky… hmm… de onde é que conheço esse nome? É o tipo do Ida? Não, esse é o Pawlikowski. Como o google sabe tudo, uma rápida pesquisa na net. Konchalovsky, Koncha… Até engoli em seco. Obviamente que o nome me era familiar. Andrey Konchalovsky é o realizador desse grande mau filme chamado Tango & Cash.

Realizador russo de tradição soviética, experimentou Hollywood nos anos 90 com mais ou menos êxito, até cair na irrelevância. Actualmente, Konchalovsky está de volta à mãe Rússia e acaba de lançar Paraíso, filme da Segunda Guerra Mundial sobre os russos emigrados na França (e afectos à Resistência francesa) que foram apanhados pela ocupação nazi. Isto faz lembrar inevitavelmente aquele outro realizador europeu, se bem que holandês, que depois de ter caído em descrédito em Hollywood, regressou a casa e realizou um filme sobre a Segunda Guerra Mundial. Esse homem é Paul Verhoeven e o filme chama-se Livro Negro.

Paraíso segue a história de uma aristocrata russa, Olga (Yuliya Vysotskaya), capturada e enviada para um campo de concentração por ajudar a esconder crianças judias. No campo de concentração, vai reencontrar um oficial alemão com quem teve um flirt fugidio há alguns anos atrás e que pode vir a ser o seu bilhete de ali para fora. Tudo isso é contado numa espécie de episódios, intercalados pelas entrevistas dos intervenientes (incluindo o polícia colaboracionista francês que, às tantas, desaparece do filme, apenas para regressar na última cena quando já ninguém se lembrava dele) a olhar directamente para a câmara, que depois vão descambar num twist com tanto de inesperado quanto de estranho e de beatice manhosa.

Já todos vimos filmes sobre o Holocausto e sabemos como era a realidade cruel dos campos de concentração. Aliás, ainda nos lembramos bem de O Filho de Saul. Paraíso procura não nos deixar esquecer disso e até tem um par de momentos daqueles que nos faz desviar a cara, como quando uma prisioneira morre em plena refeição e as colegas se atropelam na ânsia de serem as primeiras a ficarem com as suas botas e demais pertences. No entanto, tudo isto é depois abafado pela historieta de telenovela do oficial alemão apaixonado pela prisioneira russa.

Isto faz com Paraíso pareça ser sempre uma secção de cordas a tocar num tom diferente que o resto da orquestra, em que nem sequer o preto e branco ajuda a uniformizar as coisas. Não é que seja propriamente um mau filme, mas verdade seja dita, quantos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial já vimos? Este faz lembrar aquela anedota dos meninos chineses que, quando vêm o almoço, exclamam outra vez arroz! Nós exclamamos outra vez Cheeseburgers!

Título: Ray
Realizador: Andrey Konchalovskiy
Ano: 2016

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