| CRÍTICAS | Perdidos

E, de repente, passámos de miserabilistas crónicos a conquistadores do mundo. Ninguém nos pára, caraças! Foi o Euro, foi a Eurovisão, foi a melhor praia da Europa, o melhor jogador de futebol, futsal e futebol de praia do Mundo…E agora até fazemos remakes de filmes de Hollywood. É certo que é um remake de um série b (olá Armadilha em Alto Mar), mas nestas alturas de entusiasmo isso não interessa nada. Próxima paragem? A conquista espacial.

Fazendo uma pausa nos seus remakes dos clássicos da comédia portuguesa, Leonel Vieira produziu este Perdidos, que atira um grupo de amigos (Lourenço Ortigão, Dânia Neto, Catarina Gouveia, Dalila Carmo, Afonso Pimentel e Diogo Amaral) para um fim-de-semana em alto-mar, a bordo dum iate, ao largo de Porto Santo. No entanto, quando vão dar banho, esquecem-se de lançar a escada primeiro e ficam sem forma de regressar ao barco. Agora são só seis amigos nas águas abertas, sem salvação. E talvez hajam tubarões por perto. Não, não há nada, não há tubarões na Madeira. Ou será que há? Não, não há.

Mais do que o survival movie (até porque não há muita coisa que se possa fazer quando se está dentro de água, em alto mar), o que realmente interessa em Perdidos são as dinâmicas do grupo, especialmente à medida que vão perdendo o controle com o passar do tempo e com o aumento do desespero. Por isso, o filme até presta alguma atenção às suas personagens, se bem que todas elas têm um mau feitio desgraçado, estão sempre a discutir e a arranjar intrigas e, no fundo, nós só queremos que haja mesmo um tubarão no filme para que as choraminguices daquela gente acabem mais cedo.

No fundo, Portugal precisava de mais cinema assim: filmes descomplexados e descontraídos, de uma economia série b, que não ofendam ninguém. Há os bonitos planos de drone, à postal de férias, para justificar o investimento do Turismo da Madeira, há a Dânia Neto em nu integral por causa de razões e existem mais buracos no argumento do que na defesa do Sporting (a meio aparece um telemóvel do nada ou há personagens que sobem e descem do barco no final sem qualquer explicação), mas prefiro comer um Cheeseburger a ver Perdidos do que menus mais elaborados a ver outras coisas mais pretensiosas.

Título: Perdidos
Realizador: Sérgio Graciano
Ano: 2017

2 thoughts on “| CRÍTICAS | Perdidos

  1. O Ramalho Ortigão era um escritor e se fosse um dos actores do Perdidos teria 102 anos
    A sorte é que sabes tanto de cinema como de história de Portugal…
    Devias de preferir a Tombo a ir a uma Mcdonald’s

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