| CRÍTICAS | Ghost Dog – O Método do Samurai

Se há palavra que possa definir Ghost Dog – O Método do Samurai é… inesperado. Não é que Jim Jarmusch seja o mais convencional dos realizador, mas vejamos este. É um filme de samurais, com mafiosos italo-americanos e pretos do hip-hop cheios de bling bling. Além disso, Forest Whitaker, o protagonista, é um samurai que faz uns servicinhos por fora, que contacta com os mafiosos por pombos-correio e que tem como melhor amigo um vendedor de gelados que só fala francês. Mesmo só falando inglês. Portanto, usar inesperado para definir Ghost Dog – O Método do Samurai até é favor.

Costuma-se dizer que Jarmusch é o mais europeu dos realizador norte-americanos, mas aqui ele faz o seu filme oriental. As influências aos samurais de Akira Kurosawa são mais evidentes (e óbvias), até porque há referências directas a Rashomon (que o próprio realizador japonês adaptaria em Às Portas do Inferno), mas essas estendem-se aos kung fu moves como Branded to Kill. Além disso, este é, provavelmente, o filme em que Jarmusch mais revela as suas influências, mesmo que elas pareçam ser, à partida, contraditórias.

Ora bem, há os samurais japoneses, há os gangsters mafiosos italo-americanos (que Martin Scorsese cunhou como seus), há as inesperadas explosões de sangue de Tarantino, há o humor absurdo da comédia à italiana e aquela normalidade rotineira à superfície, que é mais à irmãos Coen do que à David Lynch. E tudo isto é embrulhado num cinema silencioso (sempre a sombra reverencial de Antonioni no cinema de Jarmusch), quase formalista, com a banda-sonora de RZA a funcionar ela própria como personagem também e, claro, Forest Whitaker nm dos papeis da sua carreira.

Whitaker mergulha numa prestação altamente imersiva, na pele de um gangster silencioso (sempre a tradição dos anti-heróis silenciosos de Melville, com cara de dor de barriga) que rege a sua vida pelos ensinamentos do mestre samurai Hagakure, cujos ensinamentos são apresentados em intratítulos que podiam muito bem serem poemas haikai. Essa vida seguida à risca é um reflexo do cinema formalista de Jarmusch, que haveria de ser levado ao extremos em Os Limites do Controlo, filme que, de certa forma, é um primo não muito afastado deste Ghost Dog – O Método do Samurai. Só que este é um McRoyal Deluxe bem mais saboroso.

Título: Ghost Dog: The Way of the Samurai
Realizador: Jim Jarmusch
Ano: 1999

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