| CRÍTICAS | Last Days Here

Nos últimos tempos, a net e o cinema têm-se unido para resgatar das trevas do esquecimento várias bandas injustamente pouco reconhecidas. Basicamente, foi o juntar da fome com a vontade de comer. De um lado, os maluquinhos da net, a fazerem trabalho de sapa entre os rodapés da história da música, procurando discos perdidos e criando um culto online; do outro lado, o pessoal do cinema a mostrar ao resto do mundo que existe mais música que aquela que a rádio passa.

O exemplo mais mediático terá sido o de Sixto Rodriguez (e, de certa forma, o das tipas de A Um Passo do Estrelato), com À Procura de Sugar Man, devido ao Oscar que venceu, mas tem havido outros títulos a fazerem figura de destaque. O dos Anvil (vide Anvil: The Story Of Anvil) continua a ser o melhor, mas há também, por exemplo, o A Band Called Death, sobre os antecessores dos Gories e dos Dirtbombs. E há este Last Days Here, sobre os Pentagram, avozinhos do hard-rock, e o seu mentor, Bobby Liebling.

Mas quem raio é esta gente? Ora bem, Liebling é um tipo com idade para ter juízo, que vive na cave da casa dos pais, agarrado ao crack há várias décadas, que acredita ter uma infestação rara de parasitas debaixo da pele, que o faz coçar-se bué e ter os braços em carne viva. Estão a imaginar a peça, não estão? Mas como há ainda maluquinhos do heavy que acreditam que ele vai conseguir um last shot, alguém lhe arranja um último contrato discográfico e uma tour de consagração. E Last Days Here vai seguir este processo.

No entanto, Last Days Here tem pouca música. Isto porque Liebling é uma personagem difícil e complexa e, a meio, arranja uma namorada e o drama instala-se. Moral da história: não importa o quão caquético e velho estás, desde que tenhas uma banda rock irás sempre sacar as miúdas giras. No entanto, como já vimos The Devil and Daniel Johnston, sabemos o que a casa gasta e que podia ter havido um bocadinho de música lá dentro.

Nesta mistura de The Devil and Daniel Johnston e A Band Called Death, acabamos por nos lembrar do Tentação. É que fica a ideia de que Bobby Liebling entra e deixa a droga assim como a personagem do Joaquim de Almeida deixava o vício, sem qualquer dificuldade. O problema é a linha temporal do documentário, aparentemente pouco clara, que deixa de vez em quando algumas dúvidas.

Mas Last Days Here é divertido, tem o factor da curiosidade mórbida também e serve para descobrir uma banda que merece mesmo o seu lugar na história do rock. Mesmo que seja em letras pequenas, num anexo qualquer. O McChicken está aqui para o provar.Título: Last Days Here
Realizador: Don Argott & Demian Fenton
Ano: 2011

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