| CRÍTICAS | O Homem com Raios X nos Olhos

Stephen King, tipo de insuspeito bom gosto, tem por O Homem com Raios X nos Olhos enorme consideração. E só por isso já merece ser descoberto. O próprio Roger Corman, o prolífero produtor e realizador de mais de 400 filmes de baixo orçamento, confessou que o final alternativo que King sugeriu para o filme era bem melhor que o seu e lamenta não se ter lembrado dele. Mas não vamos falar mais dessa parte para não entrarmos em spoilers.

O Homem com Raios X nos Olho é então a enésima variação do cientista maluco, que procura ultrapassar os limites humanos para chegar ao domínio dos deuses. Aqui, James Xavier (Ray Milland) acaba de inventar umas gotas que permitem ver mais além do que o olho humano enxerga. Contudo, este cientista não corresponde em nada ao esteriótipo dos outros cientistas doidos da ficção-científica. Este é um tipo sofisticado, educado e, acima de tudo, utiliza-se a si próprio como cobaia. Por isso, é ele que se vai tornar no homem com raios-X nos olhos de que fala o título.

Como na melhor ficção-científica, O Homem com Raios X nos Olho utiliza este cenário hipotético como metáfora da condição humana. Quer seja voluntário ou não, o que é certo é que Roger Corman reflecte aqui sobre a máxima de que ver mais não significa necessariamente ver melhor. E James Xavier vai descobri-lo da pior forma. Começa por empregar a sua visão raio-x para salvar vidas, na mesa de operações do hospital, mas rapidamente termina no casino, a amealhar milhares de dólares. E como na Quinta Dimensão – ou mais recentemente no Black Mirror -, O Homem com Raios X nos Olho também termina com uma mensagem moral.

Apesar do baixo orçamento, os efeitos-especiais de O Homem com Raios X nos Olho são inesperadamente bons, especialmente tendo em conta a época. Mas não nos podemos esquecer que estamos a falar de Roger Corman, o rei da série b, e por isso há também no filme alguma violência, nudez dissimulada e uma perseguição automóvel a alta velocidade (com um helicóptero no encalço). Corman sempre dominou os dispositivos do entretenimento e O Homem com Raios X nos Olho é um excelente exemplar disto, ao alternar cenas escapistas – como quando James Xavier vai a uma festa cheia de álcool e swing e se deleita a ver aquelas miúdas todas despidas – com outras de maior profudindade teórica – como o plano final, em plena igreja, com James Xavier a tremer sob o dedo acusador de um pregador. Por tudo isso, O Homem com Raios X nos Olho não é o habitual filme sci-fi de baixo orçamento que se espera de um Corman vintage. E até tem como protagonista um actor que tinha acabado de receber um Oscar. Tudo motivos mais do que suficientes para justificar o McBacon.Título: X: The Man with the X-Ray Eyes
Realizador: Roger Corman
Ano: 1963

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