| CRÍTICAS | Sorte à Logan

Steven Soderbergh interrompeu a sua reforma compulsiva, que havia anunciado após Por Detrás do Candelabro, desencantado com a indústria depois de não ter conseguido arranjar distribuidor para o filme, para fazer Sorte à Logan, um trabalho muito parecido com Ocean’s Eleven – Façam as Vossas Apostas. Parecido no conteúdo – afinal de contas, são ambos filmes de assalto – e parecido na forma, já que é também um buddy movie, feito entre amigos numa atmosfera familiar que acaba por se reflectir também no próprio filme.

É certo que Sorte à Logan não tem o savoir faire de Ocean’s Eleven – Façam as Vossas Apostas, mas isso deve-se sobretudo ao ambiente de ambos. Enquanto nesse último se assaltavam casinos luxuosos em Las Vegas, neste assalta-se um popular autódromo de Nascar, na América sulista do white trash, calções à Daisy Duke e bandeiras da Confederação ou estátuas do General Lee – Os Três Duques acabam de ligar a pedir as referências de volta! Estamos portanto na Trumpville e, por isso, perante um hillbilly heist movie ou, como se refere às tantas no filme numa piada meta-referencial, o Ocean’s Seven-Eleven.

Os irmãos Logan (Channing Tatum e Adam Driver, este último ainda na mesma personagem de Paterson, mas sem um braço) decidem então assaltar o autódromo local, no dia da maior corrida de Nascar do ano, o primeiro porque precisa de dinheiro para a pensão da ex-mulher (Katie Holmes em modo sulista white trash) e da filha (Farrah Mackenzie que, no final, terá o seu momento Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos, num momento country bem bonito) e o segundo porque… família é família. Para isso, envolvem ainda a terceira irmã (Riley Keough), cabeleireira e pé pesado ao volante, o especialista em arrombamentos Joe Bang (Daniel Craig) e os irmãos saloios deste. E o mais difícil do plano não será entrar e sair com o dinheiro de um dos sítios mais vigiados do sul dos Estados Unidos nem o facto de Daniel Craig estar preso(!), mas antes a “maldição” da família, que Adam Driver está sempre a fazer questão de referir.

Tal como a saga Ocean’s Eleven – Façam as Vossas Apostas, Sorte à Logan desenrola-se com grande à-vontade, entre o tom familiar do filme (ao qual ainda se junta Hillary Swank, que abre a porta a mais sequelas no epílogo, ou um Seth MacFarlane em modo caricatura, mas divertido), o humor circunstancial e o estilo ágil de Soderbergh, que filma com grande à-vontade fazendo uma trama complicada parecer extremamente fácil. Obviamente que estamos num heist movie e tudo desemboca para o assalto final, por isso só temos que nos sentar confortavelmente e esperar por ele.

O problema de Sorte à Logan não é o pouco realista plano do assalto, até porque para um roubo daquela envergadura seria sempre preciso algo mirabolante, com muitas coincidências à mistura. O problema são mesmo os trinta minutos a mais pós-assalto, que esticam a trama para além do necessário, amolecendo o filme e a nossa paciência. Fica a sensação que Soderbergh se esforçou demasiado em abrir a porta para as sequelas. E, mesmo assim, este Double Cheeseburger será melhor que noventa por cento dos blockbusters de acção que veremos este ano e nos próximos.

Título: Logan Lucky
Realizador: Steven Soderbergh
Ano: 2017

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