| CRÍTICAS | Blade Runner – Perigo Iminente

Confesso que hesitei duas ou três vezes antes de escrever estas linhas. Aliás, hesito sempre antes de escrever sobre os meus filmes favoritos. Não é por recear não conseguir fazer justiça ao filme, mas antes por temer não conseguir transmitir a quem lê um pouco do meu entusiasmo.

Como já devem ter percebido, Blade Runner – Perigo Iminente é um dos meus filmes favoritos, uma daquelas obras que acabamos sempre por rever, mesmo quando a apanhamos pela milésima vez na televisão. E como eu existem outros milhentos fãs, que fazem de Blade Runner – Perigo Iminente um dos objectos de culto mais iconográficos da sétima arte, cheio de versões definitivas, director’s cut e, agora… uma sequela.

Blade Runner – Perigo Iminente é uma adaptação livre de um conto de Philip K. Dick, o Pelé dos livros de ficção-científica, em formato cyber-punk meets film noir. Numa Los Angeles futurista e distópica, Rick Deckard (Harrison Ford) é um blade runner semi-aposentado que, relutantemente, vai aceitar uma última missão: eliminar cinco replicantes fugitivos. Para quem não está ambientado à história, um replicante é um tipo de andróide semelhante aos humanos, construído para combate ou para actividades arriscadas e que foi proibido na Terra após começarem a ganhar demasiada independência. E os blade runners são agentes especiais treinados para os eliminar.

Apesar de ser um filme de ficção-científica, Blade Runner – Perigo Iminente tem muito pouco de filme de acção e muito mais de ensaio metafísico. O filme é uma espécie de ripoff do mito de Pinóquio e uma abordagem à problemática da biogenética. Em suma, é aquilo a quem chamo carinhosamente de Síndrome Exterminador Implacável, um mandamento que reza assim: nunca na puta da tua vida dês intelegência artifical a uma máquina. Ridley Scott faz um interessante cruzamento entre os replicantes que tentam, a todo custo, ultrapassar a data de validade, com as massas humanas que inundam as ruas de Los Angeles de forma automática e insensível. Afinal, quem é que são mesmo os seres humanos na história?

Uma coisa que me tem feito espécie ao longo dos anos é como é que um canastrão como Ridley Scott consegue fazer filmes como Alien – O Oitavo Passageiro e outros como Um Ano Especial. Não é aqui que vou especular sobre as minhas ideias; mas achei que seria uma boa forma de inserir na conversa Alien – O Oitavo Passageiro. É que, como neste, Scott cria para Blade Runner – Perigo Iminente uma atmosfera única e muito particular, que dá ao filme outra riqueza, novas texturas e diferentes atmosferas.

Mas estanão resulta só a nível estético; é ela própria uma personagem. Num cruzamento entre o cyberpunk e o estilo retro do cinema noir, a Los Angeles distópica de 2019 poderia muito bem ser a que vamos encontrar daqui a dois anos (com excepção dos carros voadores): uma cidade cada vez mais alta, perdida em neóns e publicidade gigante (os anúncios à Atari são impagáveis), dominada pela produção oriental, pela impessoabilidade e pelas massas humanas.

Blade Runner – Perigo Iminente tem vindo a ter várias versões ao longo dos anos e, por isso, urge fazer um parágrafo final bem claro. Existem oito-8-oito(!) versões do filme. Opte de forma responsável, sensata e inteligente pela versão a ver. Escolha a que não tem o final feliz nem narrador. Só essa vale o delicioso Royale With Cheese. 

Título: Blade Runner
Realizador: Ridley Scott
Ano: 1982

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