| CRÍTICAS | A Desaparecida, o Aleijado e os Trogloditas

Olhamos para A Desaparecida, o Aleijado e os Trogloditas e parece que não há nada que enganar: estamos perante mais um neo-western. Está lá tudo: as roupas, os cavalos, as longas paisagens recortadas pelos altos desfiladeiros e até o título em português presta homenagem ao western spaghetti. Além disso, assim que começa, com uma violência mais gráfica do que seria de esperar, sente-se logo a influência de Sam Peckinpah. Mas aquele prólogo místico, mais a presença do sempre seminal Sid Haig, deixa no ar que há ali mais qualquer coisa.

Temos então uma mocinha (Lili Simmons) que é raptada por uma terrível tribo de trogloditas, que são extremamente violentos e de quem até os índios têm medo – estão a perceber? se até os selvagens têm medo, o que é que isso faz deles? Duplamente selvagens? O xerife lá do vilarejo (Kurt Russell ainda a manter a sua personagem de Os Oito Odiados), mais o seu ajudante velhote (Richard Jenkins), um tipo cheio de bazófia (Matthew Fox) e o marido da mocinha (Patrick Wilson) vão então tentar resgata-la, sabendo que a demanda tem tudo para correr mal. Ah, falta dizer que este último está coxo de uma perna, devido a uma queda, que é para perceberem a totalidade do título português do filme.

Entramos então em modo de filme de resgate, algo que não é nada estranho ao western (alguém mencionou A Desaparecida?). Mas à medida que nos vamos embrenhando no Oeste Selvagem com aquele grupo de heróis destemidos, começamos a perceber que há algo mais aqui. Primeiro são uns rápidos vislumbres dos trogloditas, que são super-rápidos e fortes; depois, vemo-los de perto e percebemos que têm ossos cozidos à cara e isso é assustador; e, quando abrem a boca, soltam uns gritos que parecem o Predador.

Rapidamente A Desaparecida, o Aleijado e os Trogloditas saiem do território do western e entram no do terror, especialmente quando os heróis entram no território dos selvagens. A violência seca e realista de Sam Peckinpah torna-se cada vez mais gráfica, à medida que a demanda vai ficando mais e mais sangrenta e há uma cena em que um dos heróis é desmanchado, como uma peça de carne num talho, que mete a cena da mão esfolada de Gerald’s Game a um canto.

O debutante S. Craig Zahler, inspirado por outros neo-westerns recentes (especialmente o Escolha Mortal, de John Hillcoat, até porque a banda-sonora é em tudo reminiscente das de Nick Cave com Warren Ellis), mantém o registo muito cool até ao final, às vezes até com alguma pose, mas nunca sem desmerecer o espírito do filme. E isso faz de A Desaparecida, o Aleijado e os Trogloditas uma das melhores surpresas deste ano e um McRoyal Deluxe que vale a pena guardar numa caixinha e seguir com atenção no futuro. Se não nos trair, podemos ter em Zahler alguém em quem confiar a sério. Título: Bone Tomahawk
Realizador: S. Craig Zahler
Ano: 2015

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