| CRÍTICAS | Thor: Ragnarok

Um dos problemas das adaptações de Thor ao cinema sempre foi encontrar o tom certo entre o ambiente mitológico e a nossa realidade. Especialmente em Thor, isso nem sempre era feliz. A solenidade com que deuses vestidos de capa e espada chegavam às ruas de Nova Iorque aproximavam-no perigosamente de xungarias série b, tipo… He-Man – Masters do Universo (sim, o título em português é assim mesmo, masters [sic] do universo). No entanto, também convinha não avacalhar o Deus do Trovão, porque para isso já bastou quando o transformaram num surfista desmiolado em The Incredible Hulk Returns.

O novo Thor: Ragnarok, o terceiro tomo das adaptações do Deus do Trovão ao cinema, faz tábua rasa com as anteriores, no que diz respeito a esse tom e à atmosfera do filme. Afinal de contas, se foram buscar Taika Waititi (que o ano passado realizou o magnífico O Que Fazemos nas Sombras) para realizar, outra coisa não seria de esperar. Thor: Ragnarok carrega forte no humor, na boa disposição e no factor entretenimento.

Os primeiros minutos dizem-nos logo ao que vamos: Thor quebra a quarta parede, diz umas chalaças enquanto se liberta do cativeiro de Surtur e arranca uma cena de pancadaria de meia-noite ao som da Immigrant Song, dos Led Zeppelin (que, por sinal, já tinha dado uma excelente banda-sonora para outra cena de porrada em Shrek, O Terceiro). A única questão aqui é: precisávamos de outro Guardiões da Galáxia? Sim e não. Não, diz-nos a racionalidade; sim, diz-nos aquela parte de nós que gosta de se divertir.

Esqueçam então o Thor solene, dos filmes anteriores, que era filho do rei dos deuses nórdicos e herdeiro dos Nove Reinos. Aqui, Thor é um tipo com espírito, cheio de one liners, que vai encontrar o vilão mais poderoso até ao momento: a sua irmã Hela (Cate Blanchett), a deusa da Morte. O Deus do trovão vai ser completamente humilhado em Thor: Ragnarok – além de Hela lhe destruir o martelo, ainda lhe cortam o cabelo -, mas a boa disposição de Taika Waititi não desmerece a gravidade da situação. Apenas a torna ainda mais interessante.

O outro trunfo de Thor: Ragnarok é a forma como Waititi vai cruzando e introduzindo na história outros heróis do universo Marvel. É precisamente estes cruzamentos que os fãs mais acérrimos gosta de ver, daí o sucesso dos Vingadores, por exemplo. E se alguns, como o Doutor Estranho, são só passageiros, outros quase que roubam o filme. É o caso do Hulk, tanto em monstro verde quanto em Bruce Banner, que se torna no sidekick perfeito para este Thor bem-disposto, até porque não tem muito a ver com o monstro atormentado da versão do John Woo, por exemplo.

Thor: Ragnarok joga a carta do buddy movie, mas sobretudo do filme de acção dos anos 80 (até a banda-sonora é completamente chapada de coisas como… Stranger Things e Kung Fury, que prestam homenagem a este universo eighties). Waititi disse que a sua grande referencia foi As Aventuras de Jack Burton nas Garras do Mandarim, mas é impossível não pensar em Flash Gordon. Portanto, Thor: Ragnarok tem tudo o que um filme de acção deve ter, em doses bem medidas: acção, claro, com boas sequências de pancada que até envolve um duelo entre dois heróis Marvel (e se não quer spoilers não leia que é entre o Thor e o Hulk), humor, vilões carismáticos (e Jeff Goldblum é uma aquisição incrível do universo Marvel na pele do Grandmaster) e várias referências, tanto ao universo Marvel quanto à própria cultura pop em si. Um excelente McRoyal Deluxe, que ajuda quem não gostou dos filmes anteriores a fazer as pazes com o Deus do Trovão. Título: Thor: Ragnarok
Realizador: Taika Waititi
Ano: 2017

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