| CRÍTICAS | 1922

No início deste ano da graça do Senhor de 2017, Stephen King já era o escritor vivo com mais livros adaptados ao cinema, um recorde com uma longevidade já considerável. Então porque é que parece que este foi o ano que Hollywood descobriu o Mestre do Horror? Principalmente por causa de It e da sua campanha de marketing brutal, que levou tudo atrás. E principalmente porque, desta vez, a maioria dos filmes que adaptam obras suas não são uma merda.

Depois de Gerald’s Game1922 é a segunda produção do Netflix que pega num livro de King. Desta vez é a história de um homem, Wilfred (Thomas Jane), um agricultor sulista, que decide assassinar a esposa com a ajuda do filho, para ficar com a casa e a sua herança. No entanto, como o próprio diz às tantas, um assassinato não é mais do que… muito trabalho. E assim, ao longo de todo o ano de 1922, vamos ver como é que Wilfred e o filho vão descalçando aquela bota, tapando os buracos que vão constantemente aparecendo, até a manta ser demasiado curta para conseguir tapar tudo.

1922 é então um filme de suspense, que vai enchendo a pouco a pouco uma panela de pressão, que sabemos que vai explodir no final. Só não sabemos é quem é que os estilhaços vão atingir. Claramente influenciado por The Tell-Tale Heart, o clássico da literatura de terror de Edgar Allan Poe – mas com ratos em vez de um coração palpitante que se recusa a desaparecer, como um símbolo da culpa crescente que não mata, mas mói -, 1922 é ainda um thriller psicológico, que vai escarafunchando na consciência cada vez mais fundo.

Portanto, 1922 é um digno exercício de building up, que Thomas Jane vai levando em ombros, com o seu sotaque exagerado e elegância em doses iguais. No final, sobra um filme que, tal como Gerald’s Game, deixa a Stephen King um McBacon que a maioria das suas adaptações não merece.

Título: 1922
Realizador: Zak Hilditch
Ano: 2017

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