| CRÍTICAS | O Quadrado

O Quadrado, Palma de Ouro deste ano e mais mil e uma loas tecidas pelos restantes festivais por onde passou, arrisca-se a ficar demasiado colado à sequência que, praticamente, aparece em todo o material de promoção do filme (incluindo nas fotos que acompanham esta prosa). E, no entanto, apesar de O Quadrado ser muito mais do que essa sequência, em que um performer em pleno jantar de gala age como um macaco até aos limites da performance, essa cena é o exemplo perfeito do que é o filme.

O realizador, Ruben Östlund, monta uma série de episódios mais ou menos ordinários na vida de Christian (Claes Bang), o respeitado curador de um museu de arte contemporânea – o tal jantar de gala, uma jovem que pede ajuda em plena luz do dia, um tipo com síndrome de Tourtette numa conferência de imprensa… -, e depois diverte-se em trocar-lhe as voltas e a atirar pedrinhas para a engrenagem. No fundo, é material que tanto serviria ao humor de Woody Allen como ao absurdo de Roy Andersson (que, nunca me tinha apercebido, é sueco tal como Östlund).

Mas nas mãos de Robert Östlund, estes episódios (que o próprio revela terem todos acontecido a si ou a conhecidos seus) servem para reflectir sobre o altruísmo e sobre como é difícil mantermo-nos íntegros entre o que fazemos e somos e o que gostaríamos de fazer e ser. Paralelamente a isso, é ainda uma feroz crítica à arte contemporânea, onde há uma cena breve, mas não menos genial, em que um empregado de limpeza do museu aspira inadvertidamente uns montinhos de cascalho que eram, afinal, uma instalação artística.

O quadrado que dá título ao filme vem duma instalação que Christian adquire para o museu e que consiste num quadrado delimitado no chão em que, quando no seu interior, as pessoas têm forçosamente de agir de forma altruísta para com outrem. É esse quadrado o ponto de encontro entre o dilema moral de O Quadrado e a sua denúncia crítica à arte contemporânea. Tudo isto filmado com o formalismo gélido dos dramas nórdicos, em que a organização exterior contrasta com a revolta de ideias e emoções que fervem no interior. É um dos McRoyal Deluxes deste ano da graça de 2017.

Título: The Square
Realizador: Ruben Östlund
Ano: 2017

One thought on “| CRÍTICAS | O Quadrado

  1. Pingback: | LISTAS | Os Melhores Filmes de 2017 | Royale With Cheese

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *