| CRÍTICAS | Roda Gigante

Depois dos anos 30, no anterior Café Society, Woody Allen dá um pulo até aos anos 50, no seu mais recente Roda Gigante. E para esta sua safra de 2017 conta com a ajuda de Justin Timberlake, Kate Winslet, Juno Temple e Jim Belushi. Só não conta é com a sua Nova Iorque natal para cenário, ela que muitas vezes é ela própria uma personagem dos seus filmes.

Aqui é o parque de diversões de Coney Island a fazer de cenário a Roda Gigante. No entanto, a verdadeira personagem do filme é Vittorio Storaro. O director de fotografia italiano já tinha trabalhado com Allen no anterior Café Society, mas é aqui que faz um brilharete. Com a sua cinematografia solar, inundada pelos neons da feira, mas também pela luz muito própria do verão de Coney Island, Storaro mostra-nos Woody Allen como nunca o vimos antes. Ele já nos tinha avisado na entrevista que deu ao Ipsilon

Quanto ao filme em si, é a história de um triângulo amoroso que se forma entre oJustin Timberlake-nadador-salvador, a Kate Winslet-aspirante a actriz enfiada num casamento sem amor e num filho aspirante a pirómano e a enteada desta, Juno Temple-recém-fugida do marido gangster. É um melodrama escrito a traço grosso, com claras referências literárias, que muito boa gente tem associado aos grandes romancistas norte-americanos (olá Tennessee Williams, olá Eugene O’Neill), mas que é todo ele uma tragédia grega a anunciar a qualquer momento algo de sanguíneo.

A única diferença é que aqui não há coro. Mas há o habitual narrador, que quebra a quarta parede para se dirigir a nós, espectadores, directamente, num gesto de marca habitual em Woody Allen. É a Justin Timberlake que calha esse papel, se bem que, desta vez, a projecção do eu de Allen se projecta em duas personagens. Além de Timberlake também em Kate Winslet, na sua forma neurótica e exacerbada de lidar com todas aquelas situações que lhe caiem nos braços (esquecemos de referir que o marido, Jim Belushi, é um wife-beater a tentar deixar a bebida).

É no minúsculo apartamento de Kate Winslet (ela é o verdadeiro dínamo de Roda Gigante) que o filme se resolve e é lá que se passam os seus melhores momentos. Woody Allen, auxiliado por Vittorio Storaro (que faz de Roda Gigante um rebuçado para os olhos), gere a tensão como se estivesse numa panela de pressão. E são nesses momentos claustrofóbicos, perto da din|amica do teatro, que o filme se aproxima inevitavelmente de Tennessee Williams (olá Um Eléctrico Chamado Desejo) e da inevitável tragédia humana. Um belo McRoyal Deluxe do mestre Allen.

Título: Wonder Wheel
Realizador: Woody Allen
Ano: 2017

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