| CRÍTICAS | O Rei da Polca

Na maior parte daqueles casos que dão razão à máxima de que a realidade ultrapassa a ficção, a simples existência de certas personagens justificam pura e simplesmente qualquer filme. Eles próprios dão cor e emoção a uma história, dispensando por completo muletas narrativas, plot twists e outras cambalhotas mais ou menos artificiais.

Jan Lewan (interpretado por Jack Black), O Rei da Polca do título, é uma dessas personagens. Uma daquelas pessoas… raras, que se víssemos num filme sem saber que ele existiu mesmo diríamos que era demasiado bizarro para ser credível. E, no entanto, lá estão as imagens de arquivo depois dos créditos (e o youtube…) para nos esfregar na cara pela milésima vez que… a realidade ultrapassa sempre a ficção.

Jan Lewan é ntão um polaco que emigrou para os Estados Unidos, em busca do sonho americano. E o seu sonho incluía uma banda de polca. Aliás, a maior banda de polca do mundo. No entanto, apesar do sucesso das suas actuações junto dos reformados, a música não lhe pagava as contas. Por isso, desenvolveu um esquema em pirâmide à Dona Branca, que durante anos lhe permitiu manter a banda, tocar por toda a América, conhecer o Papa(!) num episódio altamente genial e investir numa série de negócios tão descabidos quanto ruinosos (como uma vodka com sabor próprio(!)).

O que nos faz criar empatia com Lewan é a sua ingenuidade. Ele nunca fez aquilo para enriquecer, mas sim porque acreditava piamente que, um dia, iria conseguir ter sucesso e alcançar o sonho americano. No entanto, a maioria das pessoas continua a não querer ver que o sonho americano é precisamente isso: alcançar os seus objectivos através de esquemas e aldrabices, quanto mais irreais melhor. O que esperar de um país fundado sobre os pilares da corrupção e do tráfico de influências (vide Gangues de Nova Iorque)?

O Rei da Polca é uma pequena comédia, com Jack Black nas suas sete quintas, ele que é um homem da música e que, sempre que pode ter papeis a cantar, não se faz rogado (não é por acaso que Escola de Rock continua a ser um dos seus melhores títulos). O Rei da Polca não deixar de ter um olhar condescendente sobre aquele anti-herói, mas também não se propõe a outra coisa. E é por isso que acabamos por ficar a torcer por Jan Lewan, mesmo quando ele vai preso e fica a dever milhões de dólares a dezenas de reformados.

Basta ver a diferença entre este e Eu, Tonya que iremos ver em breve: nos Globos de Ouro, quando Allison Janney revelou que a verdadeira Tonya Harding estava na audiência, o público mostrou-se confuso, entre aplaudir ou não aquela mulher que (pode ou não) ter mandado destruir à bastonada o joelho da sua rival; mas em Sundance, quando o verdadeiro Jen Lewan subiu ao palco para fazer um dueto com Jack Black, toda a gente aplaudiu e riu, não se sentindo incomodada por estar a apoiar um homem que acabou de sair da prisão e que continua a dever uma fortuna. Isto deve-se ao facto de O Rei da Polca colocar-se ao lado do seu protagonista, enquanto que Eu, Tonya contextualiza e procura explicar porque é que a sua protagonista é aquela pessoa.

Isso faz O Rei da Polca ser dispensável. Não, nada disso. É um muito bem disposto McBacon. Mas se não soubéssemos que era baseado em casos reais iria ser só mais um filme parvo do Jack Black.

Título: The Polka King
Realizador: Maya Forbes & Wallace Wolodarsky
Ano: 2017

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