| CRÍTICAS | Chama-me Pelo Teu Nome

Tal como o seu conterrâneo Paolo Sorrentino, o italiano Luca Guadagnino é um realizador que divide a crítica. Por entre os que não gostam dos seus filmes, a crítica que mais se houve é a de que fazem um cinema demasiado derivativo e/ou evocativo. Como se isso fosse necessariamente mau.

É certo que este Chama-me Pelo Teu Nome poderia ser um filme de Renoir, mas também poderia colar-se a tantos outros filmes coming of age. É a história de um jovem italo-americano (Timothée Chalamet), judeu e bem formado (o seu pai é um catedrático especialista em história freco-romana e ele lê, estuda música e passa serões a ouvir a mãe a ler romances do século XVI), que, durante as férias de verão no norte de Itália (onde, além dessas coisas todas, faz ainda aquilo que os jovens fazem no verão, vide Verão Danado por exemplo) acolhem um outro jovem, que vai ser o assistente do pai. Esse jovem, um pouco mais velho, é o norte-americano Armie Hammer. Timothée vai sentir-se inicialmente ameaçado pela presença daquele novo macho alfa no pedaço, com o seu porte considerável e savoir faire, mas depois acabam por desenvolver uma amizade e uma relação amorosa daquelas fulminantes.

Assim, além de um coming of age, Chama-me Pelo Teu Nome é uma história sobre um amor de verão, daqueles que são ampliados pela força da puberdade, mas que são igualmente trágicos por terem um prazo de validade marcado logo à partida. É certo que Luca Guadagnino o faz com uma fotografia solar que, até pelas referências literárias e culturais, nos faz lembrar o Amor de Verão, de Pawel Pawlikowski. Mas o seu grande trunfo é a forma sóbria como trata o assunto, especialmente na parte homossexual, que é apenas mais uma camada de leitura num filme-cebola (poderá dizer-se filme-alperce para fazer um trocadilho com a cena em que um alperce é… violado?) com vários layers de interpretação.

Assim, sem o histerismo e o modo olhem para mim de A Vida de Adèle (que, à sua forma, era também um belo trabalho), Chama-me Pelo Teu Nome é o melhor filme de Guadagnino que irá agradar, certamente, até aos seus detractores mais rígidos. Até porque depois há Sufjan Stevens, num plano final lindíssimo e um tema incrível. Vale a pena ir comer este McBacon só para esperar por essa cena.

Título: Call Me By Your Name
Realizador: Luca Guadagnino
Ano: 2017

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