| CRÍTICAS | O Legionário

No seu período áureo, Jean-Claude Van Damme realizou oito filmes em seis anos(!), numa sequência de luxo para os amantes do cinema xunga que começa com Força Destruidora e termina com Máquinas de Guerra Todos eles têm praticamente a mesma história e estamos fartos de a apontar sempre que falamos de um filme de Van Damme, a saber: alguém mata /rapta/aleija um familiar/amigo/conhecido seu e JCVD lá vai ter que se vingar. E, no entanto, nenhum deles capitalizou tanto essa fórmula quanto O Legionário.

Van Damme é então um soldado da legião estrangeira, em pleno deserto no Djibouti, quando recebe a notícia de que o irmão foi atacado por uns bandidos e está às portas da morte. Como família é família, JCVD vai desertar, percorrer o deserto a pé, atravessar o oceano como escravo de um navio de carga e terminar nas ruas de Los Angeles, sem dinheiro nem roupa. Por isso, acaba por entrar no mundo das lutas de rua, agenciado pelo agiota Harrison Page, amealhando dinheiro para dar à cunhada viúva e à sua sobrinha, já que ela, coitada, tem um emprego a empacotar tomates.

Por isso, a história de O Legionário é o habitual Van Damme flick: alguém lhe matou o irmão e ele vai ajudar a cunhada. E, para isso, tem que lutar. E todos sabemos que é isso que ele sabe fazer melhor. Não há cá enredos secundários metidos a martelo e a questão da Legião Estrangeira, que até dá o título português ao filme, só lá está para dar um empurrão ao filme e colocar dois tipos do governo francês atrás de Van Damme (porque como toda a gente sabe não há nada pior para França do que alguém desertar da sua Legião Estrangeira).

Além disso, as coreografias das lutas de O Legionário são das melhores de toda a carreira de Van Damme. O belga nunca foi propriamente conhecido por grandes atributos físicos, esse troféu vai direitinho para Jackie Chan e outros asiáticos (olá Jet Li, como estás?). O que o destaca são os rotativos no ar, quase passes de bailado, que resultam extremamente bem em câmara lenta. E o realizador Sheldon Lettich, apesar de abusar de repetições e outros truques de edição de efeito duvidoso, sabe tirar o melhor partido disso.

Infelizmente, O Legionário nunca é um filme de porrada a sério. Basta ver que nunca vemos Van Damme a treinar, apesar de dar uma coça a todos os seus oponentes. Nos intervalos das lutas de rua que participa – todas elas em cenários diferentes, como num jogo de computador: numa piscina semi-vazia cercada de miúdas em bikini só porque sim ou numa garagem rodeada de carros de alta cilindrada -, JCVD anda apenas a tentar resolver a sua questão financeira e a estadia ilegal nos Estados Unidos.

Referência final ainda ao vilão final, o terrível Attila (e não, não é uma piada ao Duarte e Companhia), que é um conhecido de quem segue a filmografia do belga. O marroquino Abdel Qissi voltaria a defrontar Van Damme na sua experiência na realização, Em Busca da Cidade Perdida, e no altamente xunga The Order – Cruzada Final. Quanto a O Legionário, é um dos melhores McChickens de JCVD e talvez o mais subvalorizado dos seus filmes da sua fase de ouro.

Título: Lionheart
Realizador: Sheldon Lettich
Ano: 1990

2 thoughts on “| CRÍTICAS | O Legionário

    • Olá Ary
      Obrigado pelo insulto gratuito.
      “Leão Branco, o Lutador sem Lei” não só é um título extremamente ridículo, como é o título comercial deste filme no Brasil. Em Portugal chamou-se… exacto, “O Legionário” (igualmente ridículo). O de 1998, que no Brasil se chamou “O Legionário”, chamou-se em Portugal “A Legião dos Duros” (ugh, igualmente ridículo).
      Adeus, volta sempre.

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