| CRÍTICA | Todo o Dinheiro do Mundo

Existe um filme que podia ser tremendo, se não tivesse uma obsessão doentia pelo happy ending, que é o Resgate. Nesse filme do Ron Howard, Mel Gibson é um milionário cujo filho é raptado e pelo qual pedem um resgate; ao início ele colabora com a polícia, mas depois muda drasticamente o jogo. Não só anuncia publicamente que não paga, como oferece uma recompensa pela cabeça dos raptores.

Serve isto para introduzir Todo o Dinheiro do Mundo, o novo filme de Ridley Scott que é também um thriller de resgate, baseado no caso verídico de J. Paul Getty (interpretado por Cristopher Plummer), aquele que foi o homem mais rico do mundo depois de ter sido o primeiro a extrair petróleo dos desertos arábicos. Em 1973, uns bandidos italianos raptaram-lhe o neto, Paul (Charlie Plummer), e pediram 17 milhões de dólares. Ele, que fazia essa soma diariamente enquanto trocava de camisa, veio a público e disse: não pago! Tinha 14 netos e se começasse a pagar 17 milhões por cada um, receava que a sua família não parasse de ser raptada.

Há aqui várias perspectivas de ver a coisa. De um lado a mais pragmática, a de J. Paul Getty, que acreditava que tempo era dinheiro e que um centavo era uma centavo; e do outro a da mãe de Paul (Michelle Williams, uma espécie de Erin Brockovich e verdadeiramente o melhor do filme), mais sentimental e… humana. Pelo meio a imprensa e a polícia, os primeiros autênticos vampiros a sugarem a história até ao tutano para a cuspirem para as primeiras páginas dos tablóides (e quando chega pelo correio uma orelha de Paul é o êxtase total), e os segundos a fazerem o que podem.

Há aqui material para até mais do que um filme, mas Ridley Scott decide não fazer nenhum deles. Limita-se a embrulhar tudo em cenários de luxo (Roma dos anos 70, a Arábia Saudita antes do petróleo, Londres, Estados Unidos…) e a tirar todo o proveito dos altos valores de produção. Mas fora isso, espreme-se Todo o Dinheiro do Mundo e sai muito pouco sumo. Alguém escreveu que era um drama sem drama e essa é a melhor descrição de todas. De todos os thrillers de resgate desperdiçados, Resgate continua a ser o melhor. Todo o Dinheiro do Mundo é só um Double Cheeseburger. Título: All The Money in The World
Realizador: Ridley Scott
Ano: 2017

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *