| CRÍTICAS | Vigilante

Na transição entre a patetice de 3º Calhau a Contar do Sol (no bom sentido, claro) e o mainstream (onde se tornou num dos mais respeitáveis actores da actualidade), Joseph Gordon-Levitt fez uma série de filmes independentes, que continuam a ser das melhores coisinhas da sua filmografia. É o caso, por exemplo, de Mysterious Skin (vénias), de Brick (vénias, vénias) e, supostamente, deste Vigilante. No entanto, não se deixe enganar pelos olhos bonitos do filme de Scott Frank e pela pontuação elevada do IMDB. Vigilante não joga no mesmo campeonato de Brick e de Mysterious Skin. Aliás, nem sequer é o mesmo desporto.

Joseph Gordon-Levitt é então o tipo popular da escola, o desportista bem-sucedido que sacou a tipa mais gira do liceu e que, certa noite, espeta o carro contra uma debulhadora avariada no meio da estrada. Os amigos que seguiam no carro falecem, a namorada fica aleijada para a vida e a sua cabeça deixa de funcionar em condições, com dificuldades em armazenar memórias residuais. Gordon-Levitt também tem problemas de desinibição, mas esse pormenor de diagnóstico não serve propriamente para nada além de duas situações em que diz a duas tipas, do nada, que as quer comer.

Para cumprir as tarefas do dia-a-dia, Joseph Gordon-Levitt usa então um caderno, onde vai apontando informação importante. É como o Memento, mas com um bloco em vez de tatuagens. Além disso, conta também com a ajuda do seu flatmate, o cego Jeff Daniels. E tudo isso permite-lhe manter-se mais ou menos autónomo, com um trabalho nocturno de limpezas num banco.

Depois, uns amigos novos de ocasião convencem-no a assaltar o banco (usando como argumento o facto do pai não lhe emprestar 10 mil dólares sem justificações(!)), o que serve apenas para Gordon-Levitt perceber quem é quem na sua vida e avaliar melhor a sua família e conhecidos. Tudo isso embrulhado no drama existencial espertalhão, que nos quer convencer de que é algo mais do que realmente é.

É que Vigilante e aquele filme em que as personagens secundárias desaparecem sem deixar rasto quando o realizador já não sabe fazer com elas (como é o caso de Isla Fisher, a nova (pseudo)namorada) e que tem muitos momentos profundos, que não são mais do que clichés batidos e rebatidos, mas só com uma de-mão diferente. Fica muito por fazer em Vigilante, até porque Cristopher Nolan já fez este filme e em bom. Não pedíamos que fosse outro Memento, mas esperava-se algo mais do que um Happy Meal.

Título: The Lookout
Realizador: Scott Frank
Ano: 2008

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *