| CRÍTICAS | Nebraska

Já toda a gente recebeu no correio cartas a indicar que tínhamos ganho uma fortuna qualquer. Nunca pensei que existisse alguém a acreditar nisso, mas se não houvesse como é que essas empresas prosperavam? Bruce Dern é um tipo que recebe uma dessas cartas e acredita piamente que ganhou mil dólares. E, para isso, decide ir levantar o prémio a Nebraska, nem que tenha que ir a pé.

Bruce Dern não vai para novo e o juízo já lhe começa a falhar. No entanto, nunca percebemos realmente em que é que ele realmente acredita e no que quer na realidade acreditar. Nebraska  é um filme sobre a passagem do tempo e sobre o envelhecimento, uma temática que é, aliás, constante na obra de Alexander Payne desde As Confissões de Schmidt, em que vimos pela primeira vez Jack Nicholson como o homem de meia-idade que realmente é.

Crises de meia-idade à parte, Nebraska é igualmente um road movie, em que, como mandam os códigos do género, o mais importante não é a viagem física, mas a psicológica. Will Forte, que faz de filho de Bruce Dern (e que também atravessa uma fase complicada na vida, especialmente depois da namorada o abandonar por ter medo de se comprometer), é o cicerone deste percurso, em que aproveita para passar tempo com o pai (e recuperar algum passado perdido, talvez) e para o conhecer melhor, se bem que este retrato é construído pelas vozes de quem privou com ele no passado: familiares, ex-namoradas, amigos, colegas de trabalho…

Com um tom claramente nostálgico, que Payne procura capitalizar com o recurso (desnecessário) ao preto e branco, Nebraska sabe ainda tirar partido do interior rural norte-americano, onde o tempo parece custar a passar e as longas planícies fazem parecer o Alentejo. A paleta de personagens que desfilam naquele cenário absurdo parecem saídas dum filme dos Coen e dão o toque de humor que o filme precisa, para o equilíbrio perfeito para a tragicomédia.

Bruce Dern tem aqui o papel de uma vida, devidamente reconhecido com a respectiva nomeação ao Oscar, mas o destaque tem que ir inteirinho para June Squibb. Com 82 anos e um ar de avozinha adorável, Squibb rouba todas as cenas em que entra, deixando para a posterioridade aquela em que, no cemitério, levanta as saias para a campa dum ex-namorado, e diz olha o que perdesteNebraska é o melhor filme de Alexander Payne, um Le Big Mac agridoce, sobre vidas ordinárias e banais com as quais é extremamente fácil identificar-nos.

Título: Nebraska
Realizador: Alexander Payne
Ano: 2013

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