| CRÍTICAS | Força Destruidora

Jean-Claude Van Damme fez toda uma carreira à conta de repetir o mesmo filme. Na música isso até não é propriamente mau (alguém mencionou os Ramones ou os Cramps?), mas no cinema a coisa já não é assim tão simples. A fórmula dos filmes de Van Damme é, portanto, sempre a mesma e é assim: alguém lhe mata, rapta ou aleija um membro da sua família e ele vai atrás do meliante para se vingar, podendo ou não parar pelo caminho para receber treino e orientação especial no domínio das artes marciais.

Força Destruidora é, provavelmente, o seu primeiro filme que não segue essa fórmula e, coincidência ou não, é o seu melhor. Contudo, agora que penso bem nisso, a fórmula está lá também, só que numa ordem diferente. Logo a abrir, num flashback manhoso que parece um teatrinho da APPACDM, Van Damme recupera a sua origem, de como um jovem ocidental foi treinado pelo mestre de kung fu oriental; e só lá para o meio é que o seu principal amigo é internado no hospital, depois de levar uma coça do vilão que o belga derrota no final.

Quanto ao filme adapta a suposta histórica verídica de Frank Dux, um soldado norte-americano e mestre do kung fu, que venceu vezes a fio o kumité, um torneio internacional secreto de artes marciais. E digo suposta porquê? Porque nunca ninguém conseguiu comprovar a veracidade destas histórias. Dux defende-se e diz que o kumité é tão secreto que, pro isso, não existem quaisquer registos além da sua palavra. Claro…

Força Destruidora é então o filme em que Van Damme participa no kumite, no submundo de Hong Kong. Pelo meio, há um subplot com uma tipa gira, a tal origem e a amizade com outro participante americano. Mas nada disso interessa quando está em jogo o kumite, o maior torneio de pancaderia desde O Dragão Ataca. Aliás, Força Destruidora ainda é melhor que O Dragão Ataca porque o torneio deste só tem Bruce Lee, Bolo Yeung e John Saxon, enquanto que o primeiro tem também Bolo Yeung (ainda mais mau e detestável)e uma série de lutadores ecléticos, que fazem do kumite um verdadeiro torneio colectivo: o campeão de muai thai real, um brasileiro que supostamente luta capoeira, mas que mais parece um macaquinho.

Depois há todas as imagens de marca de Van Damme – os rotativos acrobáticos e a espargata – e o duelo final com Bolo Yeung, verdadeiramente épico. Ao ver-se enrascado, Bolo faz batota e cega Van Damme que, numa sequência inesquecível de caretas em slow motion, vence-o mesmo sem ver um chavelho. Quem não acreditar que isto aconteceu mesmo a Frank Dux é porque não acredita neste McBacon e no poder dos anos 80.Título: Bloodsport
Realizador: Newt Arnold
Ano: 1988

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