| CRÍTICAS | Silêncio

Com o advento do cinema sonoro, rapidamente os espectadores passaram a tomar o som como algo garantido e os realizadores a esquecerem-se de que este é um elemento importante na concepção fílmica, incluindo na mise-en-scene. Obviamente que vão havendo excepções que nos fazem lembrar disso – como as cenas da discoteca sem som, de Babel, com uma personagem surda, por exemplo -, mas tudo feito de forma muito tímida.

Ainda não é Silêncio que vem alterar isso, mas ao menos já traz alguns aspectos positivos nessa relação entre a imagem e o som. Ao ser um filme quase sem diálogos, acaba por cortar muita palha e manter um ritmo compassado, que é importante num filme de terror deste género.

Silêncio é a história de Maddie (Kate Siegel), uma jovem surda-muda que vive sozinha numa casa no campo. Vemos logo onde isto vai parar, não é? Sem qualquer justificação, um mascarado sanguinário (John Gallagher Jr.) vai aparecer à noite e caça-la impiedosamente e sem justificação aparente, para além da cureldade e maldade pura.

Silêncio é então uma espécie de slasher de um actor só, num filme reduzido ao esqueleto do género: um local, uma vítima e um atacante. Ao retirar os diálogos, o realizador Mike Flanagan procura também reduzir os meios ao mínimo. Contudo, apesar de ser em geral um filme silencioso, Silêncio nunca tira partido verdadeiramente dessa ferramenta, ficando na maior parte das vezes a impressão de que essa opção foi apenas um gimmick inconsequente.

Mas com mais ou menos dificuldade, Flanagan consegue manter um filme consistente, sendo bem melhor a gerir o suspense do que os silêncios. Não abusa dos sustos e das respectivas jump scenes, não faz questão de ir passar por todos os lugares-comuns do género e, mesmo quando se vê obrigado a introduzir (um pouco a martelo, reconheça-se) outra personagem, para esticar um pouco mais a história, não se perde em artifícios desnecessários.

Silêncio foi tremendamente elogiado por William Friedkin e por Stephen King –  de quem Mike Flanagan é fã assumido e de quem adaptou entretanto Jogo Perigoso – e, apesar de não cumprir verdadeiramente as expectativas, são referências de respeito. Às quais se junta agora este McChicken, selo de qualidade de maior confiança do que qualquer outro elogio.

Título: Hush
Realizador: Mike Flanagan
Ano: 2016

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