| CRÍTICAS | Um Desastre de Artista

The Room é um dos filmes que aparece lado a lado com Plano 9 do Vampiro Zombie quando se elegem os piores filmes de sempre. Tal como o clássico de Ed Wood, também este ganhou um estatuto de culto que o fazem alvo de exibições regulares em todo o mundo, cultivando uma falange de admiradores fieis. É algo que a maioria os vencedores do Oscar, por exemplo, não consegue fazer, até porque quase todos estes acabam relegados à caixa dos DVD a 1 euro no Jumbo.

Mas as semelhanças entre ambos os filmes não se ficam por aí. Tal como Ed Wood, que teve direito a um biopic por parte de Tim Burton, também Tommy Wiseau, realizador de The Room, teve direito agora a um filme biográfico, assinado (e estrelado) por James Franco. E, tal como Ed Wood, Um Desastre de Artista é também um filme sobre o amor ao cinema de dois marginais que não quiseram saber do que as convenções do bom gosto tinham a dizer sobre eles. A diferença é que, enquanto o filme de Tim Burton é sobre a vida e a obra em geral de Ed Wood, este Um Desastre de Artista é mais sobre a realização de The Room em particular.

Tommy Wiseau é uma figura fascinante. Ninguém sabe de onde vem e, apesar do sotaque característico, garante ser de Nova Orleães; também garante ter 20 e tal anos, apesar de ser claramente mais velho; ninguém sabe de onde vem a sua conta bancária tão abastada; e apesar da paixão pela sétima arte, não tem jeitinho nenhum para o cinema. Apesar disso – e com o apoio do (único) amigo Greg Sestero (Dave Franco) – investiu tudo em The Room, a sua magnus opus, que deveria ser o the great american movie e o para o qual até pagou duas semanas de exibição num cinema para poder ser elegível aos Oscares. Infelizmente (ou felizmente, conforme o ponto de vista), o filme é um desastre épico, mas que deu a volta e, de tão mau que é bom, se tornou num clássico de culto.

Se não fosse uma história verídica, Um Desastre de Artista não tinha um terço da piada. Primeiro porque James Franco filma-o sempre a tombar para a paródia, custando a dar-lhe credibilidade. É sempre mais condescendente do que outra coisa qualquer. E segundo porque o filma como uma mera sucessão de episódios meramente ilustrativos. Contudo, não fica colocado em causa o empenho de Franco na demanda, especialmente na mimetização de Wiseau. Mas no final parece que tudo se limita a esse truque, a um olhem como eu consigo fazer isto, que no final do filme até o levam a colocar, em split screen, o seu filme lado a lado com o original para vermos como o conseguiu imitar na perfeição. Mas e em vez de uma imitação tivessemos uma recriação, o McChicken seria certamente mais saboroso.Título: The Disaster Artist
Realizador: James Franco
Ano: 2017

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