| CRÍTICAS | Autópsia E. T.

Em 1995, um evento à escala mundial colou meio planeta à televisão. Lembro-me perfeitamente como se tivesse sido ontem e até ainda tenho para ali algures gravado em VHS. Era a transmissão da alegada autópsia efectuada pelos militares norte-americanos aos extraterrestres despenhados em Roswell, no Novo México, em 1947, e agora revelada ao Mundo. Cá por Portugal teve os comentários de várias caras conhecidas, das quais só me recordo da de Pinto da Costa (se alguém se lembrar quem eram os outros, utilizem o sistema de comentários, se faz favor), que esgrimiram argumentos, uns a favor da verdade e outros da falsidade daquelas filmagens. Tempos depois era confirmada a fraude daquele documentário muito mal filmado…

Agora, dez anos depois, a verdade é reposta. Quer dizer, mais ou menos, uma vez que Autópsia E. T. é uma adaptação livre do que alegadamente – repito, alegadamente – aconteceu. Ou seja, dois tipos vulgares, Ray Santilli e Gary Shoefield (respectivamente incarnados pelos apresentadores Declan Donnelly e Ant McPartlin) foram bafejados pela graça divina: de forma inesperada, foi-lhes cair às mãos a gravação perdida das autópsias dos extraterrestres de Roswell. Ou seja, de um momento para o outro, Ray e Gary tinham nas mãos a maior descoberta do século XX, a prova documentada de que não estamos sozinhos no universo.


No entanto, a fita já era velhinha e, em contacto com o ambiente, desintegrou-se. E uma vez que os dois amigos já tinham vários milhares de dólares empatados, só lhes restou uma solução: fazerem um “remake” daquela filmagem proibida, rezando a todos os santinhos para que o mafioso húngaro que lhes emprestou o dinheiro enfiasse o barrete. E apesar de ser extremamente mal filmado por um indiano-filmador-de-casamentos (Omid Djalili) (e com um boneco cheio de miudezas do talho), a farsa colou. Não só junto do mafioso húngaro mas… de todo o Mundo. Estava dado o golpe do século!

Agora, dez anos depois, Ray Santilli e Gary Shoefield vêm ficcionar a verdade mais uma vez e voltar a encher os bolsos com mais uns milhares de euros. Mas desta vez até faz sentido. Autópsia E. T. é então uma britcom meets falso-documentário, uma espécie de Projecto Blair Witch inglês, ou melhor, um This Is Spinal Tap inglês – uma comédia ligeira e divertida, situada nos subúrbios urbanos de Inglaterra, daquela forma que a actual britcom gosta tanto de incidir. O humor é simples e eficaz e o ritmo do filme é suficiente para nos proporcionar um serão curto e agradável.

É certo que existem cenas demasiado exageradas para acreditarmos que foram baseadas em factos verídicos, mas quero acreditar que são apenas truques dramáticos para darem profundidade ao filme. E as personagens bizarras de Götz Otto, um mafioso húngaro gigante e ultra-sensível, e de David Threlfall, um super-geek com barbas imensas e ar de criado do doutor Frankenstein, são absolutamente deliciosas. Tal como as participações dos sempre grandes Bill Pullman e Harry Dean Stanton.

Autópsia E. T. foi, em geral, muito mal recebido pelo público e a crítica e, por isso, passou despercebido nas salas portugueses e junto de muito boa gente. No entanto, procure-o avidamente porque se enquanto filme é um delicioso McBacon, como esquema para sacar dinheiro continua a ser um verdadeiro Royale With Cheese. Quem me dera ter ideias destas…

Título: Alien Autopsy
Realizador: Jonny Campbell
Ano: 2006

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *