| CRÍTICAS | Cold Skin

O ano é de 1914. Não há cá internet e o mundo ainda é um local relativamente grande e distante. Por isso, quando um homem como o que iremos conhecer apenas como Amigo (David Oakes) decide aceitar um trabalho solitário numa ilha perto do Ártico, como técnico meteorológico, por 12 meses, é porque está a fugir de alguém. Ou de si mesmo.

No entanto, o Amigo não estará sozinho na ilha. Além da sua cabana, existe um farol na ilha e, claro, é preciso alguém para o operar. Esse homem é Gruner (um irreconhecível Ray Stevenson), um tipo que parece estar sozinho há demasiado tempo, que recusa linearmente o verso nenhum homem é uma ilha, que tem o farol estranhamento fortificado e que anda por ali todo nu, aparentemente sempre de ressaca.

Cold Skin é assim a história de dois homens solitários, numa ilha deserta. Estão então lançados os dados para um filme reflexivo, com muitos planos bonitos de paisagens e natureza. Talvez um Terrence Mallick à espreita, não? Só que não. Há mais! É que todas as noites, assim que o sol se põe, milhares de criaturas anfíbias vorazes saem debaixo das pedras e atacam ferozmente o farol e os homens. Ah, e esqueci-me de dizer, Gruner tem um desses monstros amestrado. E aproveita para se deitar com ela de quando em vez. Sim, sexualmente falando.

Cold Skin é assim uma variação de A Forma da Água, até porque as criaturas são em tudo semelhantes. Além disso, em última instância, este é um filme sobre o amor, no mais inóspito dos locais. Perante o cenário, Cold Skin era o veículo perfeito para um daqueles dramas gélidos nórdicos, esculpidos no gelo a escopro como se fosse uma preciosa filigrana. Mas o realizador Xavier Gens, francês de nascimento, tem muito pouco do norte da Europa, e nem sequer tira propriamente proveito das paisagens incríveis. Há um esqueleto de uma baleia enorme, nas praias de areia negra, que fica bem em qualquer plano, mas pouco mais que isso, e de tempos a tempos o típico plano aéreo de drone. Por várias vezes ensaia também o mesmo plano de David Oakes de costas, sobre o mar, como Viajante sobre o mar de Névoa, de Caspar David Friedrich (inclusive no cartaz no filme, em cima), mas também não passa daí.

Não é que não seja um regalo aos olhos, mas fica a ideia de que poderia ser bem mais explorada esta vertente. E tendo em conta que temos que fechar os olhos a vários plotholes do argumento, ao menos que nos dessem algo mais para degustar. Assim, o Cheeseburger é claramente pouco para mais uma variação do amor entre homem e criatura (aqui em formato feminista, de o belo e a monstra).

Título: Cold Skin
Realizador: Xavier Gens
Ano: 2017

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