| CRÍTICAS | The Promise

Quando foi o grande crash da bolsa de Nova Iorque, em 1929, dizia-se meio a sério meio a brincar, que havia mais banqueiros estatelados nos passeios depois de se suicidarem do topo dos edifícios do que em Wall Street. Em 1997, uma quebra da bolsa na Tailândia atirou o país para uma crise financeira semelhante, desvalorizando o baht de forma brutal e levando ao suicídio de centenas de pessoas que, de repente, se viram sem nada.

Boum (Bee Namthip) e Ib (Panisara Rikulsurakan) eram apenas adolescentes, mas não suportaram passar das penthouses mais luxuosas de Banguecoque para uns apartamentos minúsculos cheios de baratas. Foi mais ou menos como o que vimos no documentário The Queen of Versailles, mas de forma mais brusca. Por isso, como bff que eram, fizeram um pacto para um suicídio conjunto. Mas só a segunda teve coragem para o fazer. Por isso, quando a filha da segunda, anos mais tarde, está prestes a completar a mesma idade que Ib tinha quando se suicidou, o fantasma desta regressa para reclamar a promessa por cumprir da amiga.

The Promise é, assim, um tradicional filme de fantasmas. E, como todos sabemos, os orientais fazem-no com uma perna às costas. Sabem preparar o terreno para as jump scenes, usam a música para manipular o ambiente e atiram-no à cara os sustos que, por mais previsíveis que sejam, têm sempre força suficiente para nos fazer saltar na cadeira. O realizador Sophon Sakdaphisit não é excepção à regra e ensaia uma dúzia de cenas bem esgalhadas, especialmente na torre abandonada onde Ib se suicidou e que agora, 20 anos depois, a amiga tenta recuperar.

O problema é o resto. É que The Promise não é mais do que uma telenovela. Literalmente, uma telenovela. Até tem uma pianola fajuta que toca sempre que alguém chora. E acreditem, há muita gente a chorar em The Promise. Por exemplo, até no meio das cenas de maior tensão, ainda cheias de electricidade no ar, se alguém desatar a chorar lá vem o piano… A meio do filme já não podemos com aquilo e já só queremos esganar o pianista com as cordas do seu próprio piano.

Por isso, antes de ir ver The Promise tem de se perguntar a si próprio o quanto gosta de filmes de fantasmas, para perceber se está disposto a aguentar esta martírio. Se estiver, leva ainda de bónus uma engraçada primeira parte, ambientada nos anos 90, com pagers, a música de abertura do Windows 95 (que trip pela memory lane!) e cinemas com o Gritos em estreia. Faz de conta que isso é o brinde do Happy Meal.

Título: Puen Tee Raluek
Realizador: Sophon Sakdaphisit
Ano: 2017

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