| CRÍTICAS | Frat House

Agora que as praxes estão (outra vez) na ordem do dia – parece que é preciso alguém aleijar-se ou morrer para a malta se aperceber que a praxe é um dos cancros da sociedade moderna portuguesa, juntamente com a tourada e as marchas populares -, vale a pena recuperar Frat House, o documentário de Andrew Gurland e Todd Phillips sobre as fraternidades norte-americanas. Salvo as devidas distâncias, as duas não são assim tão diferentes uma da outra.

Tanto os estudantes americanos como os portugueses usam duas das justificações mais comuns quando toca a defender este ritual colectivo de humilhação disfarçado de sistema de integração: que é uma tradição (argumento que dá para tudo; as pauladas nas focas no Ártico ou a caça ao golfinho no Japão também são tradições) e que é uma forma de ensinar as hierarquias da vida. Obviamente, porque o meu patrão está sempre a mandar-me rastejar e eu sei que o devo fazer, porque são as hierarquias na vida.

Mas como isto não é uma prosa sobre a (parvoíce da) praxe, vamos lá a falar do filme. Frat House foi um documentário feito para a HBO e, até há data, é o único a ter sido banido pela cadeia televisiva. A versão oficial é de que a segunda parte do filme é toda encenada; a versão não-oficial é de que alguém pagou ao canal para que proibissem a sua exibição. Verdadeiro ou falso, fica à consideração de cada um.

Andrew Gurland e Todd Phillips vão então seguir e documentar o dia-a-dia de uma fraternidade, uma espécie de fusão entre as Repúblicas de Coimbra e as praxes académicas. Seguem o ritual de admissão, as festas e, sobretudo, os castigos que os novos caloiros têm que passar para serem aceites. No entanto, a meio do processo, os veteranos – liderados por um tal de Blossom, alta personagem com claros problemas recalcados – mudam de ideias e expulsam os documentaristas. É aí que eles mudam de campus, onde os deixam filmar desde que não revelem onde estão ou os nomes dos envolvidos. E essa parte que alguns defendem ser falsa.

O que é certo é que essa primeira parte é suficiente para captar o clima de humilhação, de submissão e de violência psicológica que são os pilares onde assenta aquela… tradição. Os realizadores limitam-se a documentar de forma linear os acontecimentos, com recurso a um narrador e alguns intratítulos, que fazem dele um documentário preguiçoso e claramente destinado ao formato televisivo. Todd Phillips tiraria daqui (e do documentário que fez antes do punk G.G. Allin) a maioria da influência que marca o seu corpo de obra enqunto realizador: os excessos do teen movie de Road Trip – Sem Regras ou (o mais maduro) A Ressaca. Quanto a nós, com este McChicken, tiramos mais um atestado de estupidez a este tipo de praxes.

Título: Frat House
Realizador: Andrew Gurland & Todd Phillips
Ano: 1998

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