| CRÍTICAS | A Balada de Buster Scruggs

E eis que a Netflix afiambra o dente em mais um peso pesado de Hollywood. Deste vez foram os irmãos Coen, que, com A Balada de Buster Scruggs, filmam pela primeira vez em digital. O filme é uma antologia de contos ambientados no Velho Oeste, utilizando um género a que os manos não são propriamente estranhos: o western (alguém mencinou Indomável?).

São seis histórias que começam perto da irrisão – no segmento que dá título ao filme, os Coen nunca foram tão tarantinescos, misturando os códigos do filme de caubóis e esticando-os quase até à caricatura (lembram-se de Desperado? agora juntem-lhe o musical) – e que vão aumentando de seriedade. Em comum, têm apenas uma coisa: todas elas são histórias de desesperança, lembrando que o Faroeste não foi um sítio recomendável. Só o Tom Waits, na sua história, é que se safa (mas com cicatrizes para contar).

Os filmes-mosaico têm sempre um problema de coerência, tanto formal quanto estilístico, mas obviamente que este tem a vantagem de ser todo assinada pela mesma(s) mão(s). Os Coen aproveitam ainda o digital para prestarem apurada atenção ao detalhe e experimentarem coisas novas. E, mais uma vez, o segmento inicial destaca-se neste caso, não só com Tim Blake Nelson a quebrar a quarta barreira e a dirigir-se directamente ao espectador, mas particularmente com um plano de dentro para fora da viola, com o som manipulado e tudo como se estivessemos de facto no interior do instrumento.

No entanto, o melhor segmento é o de Liam Neeson, enquanto dono de uym espectáculo ambulante, e Harry Melling, o artista sem braços nem pernas. Se A Balada de Buster Scruggs é um filme sobre desesperança, então esta história é um verdadeiro baque. A Balada de Buster Scruggs vê-se sem qualquer pinga de fastio e está povoado de boas ideias. É ainda uma excelente carta de amor ao western e a todos os seus signos (o mito da fundação, os índios, as diligências, a caça ao ouro, os assaltos aos bancos, o póquer e a batota, os duelos ao pôr-do-sol… estão lá todos como nos livros do Lucky Luke), mas apesar da competência imaculada não deixa nunca de ser um Coen menor. Mas um Coen menor é um McCkicken que é maior do que a maioria das coisas que comemos habitualmente.
Título: The Ballad of Buster Scruggs
Realizador: Ethan & Joel Coen
Ano: 2018

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