| CRÍTICAS | Favela

A própria sinopse de Favela é puro ouro. Um ex-marine enfrenta a yakuza na favela do Rio de Janeiro. Lemos este parágrafo e temos logo um orgasmo. Não dá para encomendar já o Royale With Cheese?

Michael Jai White é então o ex-marine de que fala a sinopse. Flashbacks constantes mostra-nos que o Afeganistão deixou-lhe traumas profundos, que tenta compensar com a bebida. Se bem que, fora de casa (ou na presença de outros, Michael Jai White é bastante funcional. Até que a sua irmã (Laila Ali) é morta na favela no Rio de Janeiro, onde andava a brincar à caridadezinha, e, claro, alguém vai ter que pagar por isso. Michael Jai White mete a depressão e as tendências suicidas na gaveta e lá vai ele no primeiro avião para o Brasil.

A favela não é um sítio para trismo, dizem-lhe as autoridades assim que aterra em solo canarinho. Uma mensagem nobre, já que toda a gente sabe que esta só pode ser exporada pelo cinema, especialmente o de série b, aquele que coloca ex-marines a lutar contra a yakuza na favela. E se havia quem acusasse Tropa de Elite (e até Cidade de Deus) de ser favela-chique, o que dirão de Favela, filmado com as suas cores quentes e vibrantes, muito funk na banda-sonora e, claro, lá está, os inevitáveis planos de criança a jogar à bola (e a comprar droga(!)).

Apesar de parecer um armário, Michael Jai White tem estilo e sabe mexer-se. E até parte uns ossos muito ao estilo de Steven Seagal. Por isso, tendo em conta que ele vai desatar a distribuir fruta por ali a torto e a direito à procura de pistas que o levem até aos autores da morte da irmã, isso é o que mais interessa. E ele desenrasca-se da melhor forma, com três cenas de porrada bem jeitosas, a segunda contra três gajos armados e ele só com uma pasta, e a terceira é a cena final contra os três vilões ao mesmo tempo. E cada um deles com o seu estilo próprio: o da yakuza, com uma espada; o brasileiro, mestre em capoeira; e polícia corrupto bronco e bruto.

A encadear estas cenas de porrada está um argumento básico e previsível, que antecipamos todo antes mesmo de acontecer, mas que tem a vantagem de não andar a inventar. O realizador Ernie Barbarash (que tem no currículo uma colaboração interessante com Jean-Claude Van Damme, com quem fez 6 Balas e Estado Crítico) vai directo ao assunto e sabe o que a malta quer ver. Falta-lhe apenas mostrar pele feminina gratuitamente, o que não deixa de ser surpreendente num filme destes ambientado no Brasil e com tanta testosterona.

Claro que Favela também tem os seus tesourinhos deprimentes – o meu favorito é a japonesa Hazuki Kato, sempre com uns tacões gigantescos para disfarçar que é rodinhas baixas, mas que depois coxeia como um espantalho desengonçado -, mas isso só serve par lhe dar aquele charme do tão mau que se torna bom. Favela é o meu bom mau filme favorito mais recente e, no fim, depois do McBacon, só há uma coisa que deixa um travo amargo de boca: é que o filme foi feito claramente para ter sequelas, mas de acordo com o IMDB não há planos para nenhum próximo filme.

Título: Falcon Rising
Realizador: Ernie Barbarash
Ano: 2014

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