Numa altura em que vemos diariamente o jornalismo a ser assassinado de forma cruel e lentamente, nas páginas dos órgãos de comunicação social, faz bem ver um filme como O Caso Spotlight. Não é que esta adaptação do caso real do grupo de jornalistas de investigação do Boston Globe que desmascararam os casos de encobrimento de pedofilia no Vaticano venha alterar alguma coisa. Mas restaura um pouco a nossa fé no jornalismo, provando que ainda existem jornalistas de verdade.
O Caso Spotlight segue a tradição do cinema de denúncia, ideologicamente comprometido, que teve o seu tempo nos anos 70. No entanto, é errado interpretar isto com alguma agenda mais ou menos encapotada, como alguns lobbies na internet tentam fazer crer, acusando o filme de ser propaganda anti-católica. O Caso Spotlight não podia ser mais neutro, aliás à imagem dos jornalistas que, ao longo de vários meses, investigaram o caso a fundo.
A única apologia que O Caso Spotlight faz é ao do papel do jornalista enquanto actor da sociedade, comprometido com os ideais da justiça e da integridade. Por isso, não há no filme personagens-líderes ou que se destaquem. Mesmo que Mark Ruffalo ou Michael Keaton pareçam sobressair mais, o que há aqui é um herói colectivo, que rema todo para o mesmo lado, enfrentando as adversidades.
No fundo, O Caso Spotlight é um primo de A Queda de Wall Street, outro título nomeado ao Oscar de melhor filme no mesmo ano. Ambos são filmes sobre um certo universo institucional, com um jargão próprio, assinados por realizadores vindos do mundo da comédia. No entanto, é Tom McCarthy que opta pela abordagem mais convencional, escolhendo uma realização discreta, apostando tudo na história e nos actores. E sai claramente a ganhar, com um McRoyal Deluxe no bolso, que não cede nunca ao aborrecimento que podia aparecer a qualquer instante.Título: Spotlight
Realizador: Tom McCarthy
Ano: 2015