Com todo o hype em redor de It, passou quase despercebida a estreia de outra adaptação de um livro de Stephen King, Gerald’s Game. E, sem desprimor para o remake do filme do Pennywise, este Gerald’s Game – mais uma produção Netflix – merece muito mais atenção.
Jessie (Carla Gugino) e Gerald (Bruce Greenwood) tiram então um fim-de-semana de recato, numa casa isolada à beira de um lago, para ver se apimentam uma relação que já teve melhores dias. E ele, como deve ter andado a ver As Cinquenta Sombras de Grey, leva umas algemas para experimentar. No entanto, como estamos a falar de uma história do Mestre do Terror, não há anda de erótico aqui, quando Gerald tem um AVC e cai quadrado no chão, deixando a esposa algemada na cama (e à mercê de um cão selvagem esfomeado).
Jessie não vai estar sozinha no seu martírio: vai ter a companhia do fantasma de Gerald e do seu próprio espírito, que vão dialogar consigo, leva-la a recuar no tempo, avaliar a sua vida, desenterrar esqueletos do armário (e King tem sempre muitos esqueletos no armário, especialmente do tempo de juventude) e procurar a redenção. Por isso, Gerald’s Game não é um survivor movie, como o é, por exemplo, Enterrado (apenas para citar um filme limitado a um actor e a um espaço); e quando entra em regime flashback não sentimos que seja o filme a recorrer a bengalas narrativas em desespero para arranjar soluções que façam a trama avançar.
Gerald’s Game é um thriller psicológico, que carrega a tónica no psicológico, que ainda tem o extra de terminar com uma cena de esfolamento que tem pouca comparação na história do cinema. Só era completamente desnecessário o epílogo, que parece apenas desculpa esfarrapada para dar mais tempo de antena a Carel Struycken, esse tipo que sofre de acromegalia e quase nem precisa de caracterização. É o tipo de epílogos que pode arruinar um filme e estragar uma refeição. E onde se vê refeição deve-se ler McBacon.
Título: Gerald’s Game
Realizador: Mike Flanagan
Ano: 2017