O regime nazi e, consequentemente, o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial foram um conflito geral, a todos os níveis. No entanto, do ponto de vista cultural, esse é um facto poucas vezes abordado e discutido. Anos antes do Daesh andar a destruir Palmira ou dos talibans a bombardear os budas de Bamiyan, os nazis tinham também desferido um rude golpe cultural, saqueando os museus dos territórios ocupados e pilhando as colecções privadas, assim como destruindo aquilo que considerava arte degenerada.
Os Homens dos Monumentos foi uma força de cerca de três centenas e meias de homens ligados às artes, criada pelos Aliados, com o objectivo de salvaguardar o património cultural da Europa e, posteriormente, de recuperar e devolver as obras roubadas pelos alemães. Depois de um livro bem-sucedido assinado por Robert M. Edsel e Bret Witter, George Clooney levou o grupo ao grande ecrã, dando-lhe a visibilidade justa que tanto merecem.
Por motivos narrativos óbvios, Clooney reduz esse grupo a sete homens, como se fossem uma força especial de um qualquer war movie. Liderados pelo próprio Clooney, são especialistas nas mais variadas disciplinas artísticas que, depois de um treino ligeiro e intensivo, são enviados para as linhas da frente no estádio final da guerra, algures entre o desembarque da Normandia e a capitulação germânica. Apesar do herói colectivo, The Monuments Men – Os Caçadores de Tesouros é antes um filme-coral, com o grupo a ser separado e a dispersar-se por diferentes localizações.
Apesar da gravidade do tema, Clooney trata a situação com o à-vontade da série Ocean’s Eleven – Façam as Vossas Apostas. Ou seja, um filme de amigos, com um elenco de luxo (Matt Damon, Cate Blanchett, John Goodman, Bill Murray ou Jean Dujardin), em que se nota o à-vontade de quem se está a divertir. Isso faz com que The Monuments Men – Os Caçadores de Tesouros tenha dois problemas, a saber: a) nunca encontra o tom certo para contar a história a que se propõe; e b) seja sempre demasiado esquemático, como se pegasse nos assuntos pela rama, quase como um Second-World-War-movie-for dummies.
Isso faz com que a maioria do elenco seja sempre tratado como figurantes de luxo, como é o caso de Bill Murray apenas a fazer caras de Bill Murray. John Goodman e, especialmente, Bob Balaban que mais pedem tempo de antena, mas não havia argumento suficiente para os seus esforços. A manta é demasiado curta e quando Clooney tapa de um lado, a outra ponta acaba por ficar de fora. Ou seja, demasiados esboços de ideias que ficam por concretizar, como um flirt romântico entre Cate Blanchett e Matt Damon ou a redenção pela arte de Hugh Bonneville, que tomba ao serviço voluntário da cultura ocidental.
George Clooney já provou que, atrás das câmaras, é um realizador que vale a pena seguir, com um travo clássico de um cinema de outros tempos (alguém mencionou Boa Noite e Boa Sorte ou Nos Idos de Março?). Contudo, The Monuments Men – Os Caçadores de Tesouros não é claramente um filme desse gabarito. E se começasse a conhecer a sua filmografia por este Double Cheeseburger, dificilmente teria vontade para ir descobrir os restantes.
Título: The Monuments Men
Realizador: George Clooney
Ano: 2014