Em 2015 andávamos todos entretidos com a crise na Grécia, com o segundo resgate da Troika e com as reportagens paternalistas odiáveis do José Rodrigues dos Santos. De repente, a eleição do Syriza veio agitar ainda mais as coisas. Agora havia no ar as ameaças de não assinarem o Memorando de Entendimento que impunha mais medidas de austeridade ao povo grego e uma nova estrela no firmamento: o outsider Yanis Varoufakis.
Baseado no livro e nas gravações das reuniões do Eurogrupo registadas pelo próprio Varoufakis, Costa-Gravas volta a dar um ar da sua graça com Comportem-se como Adultos, a adaptação dos cinco meses em que este foi ministro das Finanças da Grécia, até ter sido queimado pelo Eurogrupo e pela opinião pública e o povo grego f**ido no rabo pela Comissão Europeia (outra vez). É um filme declaradamente político, que nem procura disfarçar a sua agenda (os actores são sósias das suas representações reais e tratam-se pelos nomes próprios que todos reconhecemos – o Yanis, o Alexis, a Angela, o Wolfgang…) e, por isso, Costa-Gravas era a pessoa certa para o realizar, ou não fosse ele o autor dessa obra-prima do cinema político e de denúncia que é Z – A Orgia do Poder.
É um filme complicado, com todo seu jargão político e as burocracias dos corredores da tecnocracia europeia. Costa-Gravas tenta então mante-lo o mais simples possível, indo directamente para as reuniões do Eurogrupo. Não existem cá nuances dramáticas sobre as personagens (exceptuando uma referência ao casaco de cabedal de Varoufakis) nem outras motivações. Tudo é jogo político e, por isso, tudo se joga naquela sala onde se reuniam os ministros das Finanças europeus, mais o BCE, o FMI e o Parlamento Europeu.
Varoufakis aparece aquí envolto numa espécie de aura de super-herói – e até foi assim que ele foi representado pela comunicação social, até terem voltado o bico ao prego -, mas isso serve apenas para enfatizar os jogos do poder, os interesses obscuros e a máscara do “interesse comum” que é jogada na Comissão Europeia. Comportem-se como Adultos é uma espécie de Dr. Estranhoamor com o 12 Homens em Fúria, mas sem rodroguinhos de câmara ou marcas autorais.
A excepção surge já no fim. Com duas horas de duração e um ritmo de emergência que não se compreende muito bem (como se Costa-Gravas estivesse a tentar acabe o filme em contra-relógio), Comportem-se como Adultos começa a patinar e a tornar-se cansativo. Eis que Costa-Gravas ensaia o último acto numa só cena, com uma dança intepretativa(!). É uma sequência que salva qualquer filme e que mantém o McBacon pronto a devorar. E, mais um vez, o marketing nacional perdeu aqui uma excelente oportunidade de traduzir isto como “Deixem-se de Merdas”.
Título: Adults in the Room
Realizador: Costa-Gravas
Ano: 2019