Há que saudar a persistência da Universal em continuar a tentar ressuscitar o seu universo de monstros (os clássicos do cinema, o do Drácula, do Frankenstein ou do Lobisomem) ano após ano. E até mesmo por acreditar (ingenuamente, digo eu) que era possível criar um universo cinemático com eles. E, mesmo depois de mais um flop de bilheteria (lembram-se de A Múmia?), decidiram não desistir. Contudo, mudaram a estratégia. Deixaram cair a ideia do universo cinematográfico comum e aposta passou por filmes independentes.
Eis então chegado O Homem Invisível, o primeiro (e último?) dos filmes de monstros da Universal desta nova estratégia. Caiu por terra Johnny Depp, que tinha sido anunciado como protagonista ainda antes da estreia de A Múmia, e chegou-se à frente Elisabeth Moss. Significa isto que o herói da picada não é o tipo que dá título ao filme – o tal homem invisível –, mas sim uma mulher. E, logo por aí, dá para perceber que este é um filme cheio de girl power.
No entanto, a mensagem feminista não se fica por aí. Elisabeth Moss é uma mulher que, logo na primeira sequência do filme, escapa de capa, onde tem um marido manipulador e abusador (Oliver Jackson-Cohen). É ele que vai se transformar no homem invisível (ou será que é tudo paranóia dela), o que vai tornar ainda mais difícil o seu stress pós-traumático. Quem diria que O Homem Invisível seria um filme sobre violência doméstica?
Infelizmente, a partir daí tudo é a descer. Primeiro, porque tentam dar uma resposta científica ao facto do homem ser invisível (who cares?, é um filme sobre um homem invisível, não precisamos de grandes explicações) e acabam por o transformar num super-herói, que luta com polícias e desvia-se de tiros. Depois, porque o argumento é todo ele tão forçado, que até ficamos com vergonha alheia quando sentimos o filme ficar todo orgulhoso em nos apresentar o twist, que nós já topámos há séculos. E, por fim, porque a realização de Neil Whannell é pouco mais do que esforçada e tarefeira.
Salva-se então Elisabeth Moss, uma das grandes actrizes subvalorizadas da actualidade (viram Her Smell – A Música nas Veias?), mas que não pode fazer milagres com o que tem à mão; e a mensagem feminista e alerta pela violência doméstica, com um final meio… amoral. Este fim teria sido tão bom num filme a sério. Quem diria que, em 2020, iríamos estar a dar uma Hamburga de Choco a um Homem Invisível, ainda pior que o desastre do Paul Verhoeven, que foi O Homem Transparente.
Título: The Invisible Man
Realizador: Neil Whannell
Ano: 2020