| CRÍTICAS | O Corpo de Jennifer

Esta é uma declaração polémica, mas o teen movie é um sub-género subvalorizado. O que acontece é que é muitas vezes reduzido aos excessos das hormonas, à teenage angst mais superficial e ao humor escatológico e sexual, esquecendo-nos que continua a ser um género dado ao experimentalismo. É que o filme adolescente tanto pode ser utilizado para explorar a psique adolescente mais negra (olá Heathers), Shakespeare (como estás, 10 Coisas que Odeio em Ti) ou outros subgéneros como o filme de lobisomens (prazer, Tentadora Maldição).

O Corpo de Jennifer é capaz de ter sido o último grande teen movie até há data e não é de admirar que tenha construído um pequeno culto à sua volta. O filme, que é precisamente um primo próximo do Tentadora Maldição que mencionei acima, é uma variação do filme de adolescentes declinado em vampire movie, com uma forte costela feminista.

É que O Corpo de Jennifer troca os papeis de género, tão típicos no teen movie (e nos filmes de vampiros também, já agora), colocando as raparigas em posições de poder e os rapazes a ocuparem a posição de scream kings. O filme, que consagrou a então quase-desconhecida Megan Fox como bomba sexual, coloca-a como uma comedora de homens, descrição tanto literalmente quanto simbólica.

O Corpo de Jennifer foi realizado por Karyn Kusama, mas é Diablo Cody, a argumentista, quem colhe todos os créditos. Em 2009, Cody estava nas palminhas de toda a gente, depois do sucesso de Juno e da sua história pessoal com um passado no striptease, que faziam as delícias de toda a gente. É impossível não ver essa sua marca de girl power em O Corpo de Jennifer, que ainda por cima pede o título emprestado ao tema homónimo das Hole, a bandazorra da Courtney Love e estandartes do feminismo musical. Mas o filme também brinca com os clichés do próprio filme adolescente, exagerando alguns lugares-comuns ao limite do absurdo, mas sem cair na irrisão total.

Megan Fox e Amanda Seyfried são então bffs no liceu do lugarejo onde vivem, se bem que nada parecem ter em comum. A primeira é a brasa da escola, por quem todos os rapazes se babam, enquanto que a segunda é uma marrona, sem qualquer aparente interesse em sair à noite e sacar rapazes. No entanto, por pressão da primeira, acaba por a acompanhar ao concerto da banda local do momento, os Low Shoulder, uns putos emos que acabam por raptar Fox e a sacrificar ao Diabo em troca de uma carreira musical de sucesso. Como esta não era virgem, acaba possuída por um demónio e com uma sede interminável por sangue masculino.

A partir daqui, a coisa desenrola-se como esperado, incluindo alguma tensão lésbica entre Fox e Seyfried, que culmina com uma cena sexy na cama da segunda que muitas vezes é comparada à cena da piscina de Ligações Selvagens entre Neve Campbell e Denise Richards. E esta cena justifica o McChicken, perguntarão vocês? Sim, claro que sim. Mas há ainda mais uns pozinhos no filme que justificam inclusive as batatas fritas que o acompanham.

Título: Jennifer’s Body
Realizador: Karyn Kusama
Ano: 2009

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