Chiatura é uma cidade da Geórgia – a do Cáucaso, não a dos Estados Unidos que cantava Ray Charles – cuja mina de manganês chegou a abastecer 50 por cento do mercado mundial durante os tempos da União Soviética. Para quem não sabe, o manganês é um metal utilizado para a produção de pilhas. O que, como podem imaginar, faz com que Chiatura esteja, actualmente, envenenada e seja um fantasma do que foi há cinquenta anos atrás, praticamente desertificada.
Isso é, pelo menos, a sinopse de City of the Sun, porque na prática o documentário de Rati Oneli não fala nada disso. Com a ausência de qualquer narrativa e diálogos, o filme limita-se a acompanhar a vida de três pessoas de Chiatura na sua rotina diária: um trabalhador da mina que à noite persegue o seu verdadeiro sonho, o da representação no teatro; duas jovens que praticam atletismo e que buscam um patrocinador que lhes pague as refeições diárias, para que possam treinar com força; e um tipo que é professor de música e canta karaoke, mas que tem que fazer umas demolições em part-time para tentar vender as armaduras de ferro e amealhar uns trocos extra.
Com uma fotografia impecável, o cinema de Oneli lembra o formalismo de Ulrich Seidl ou a escola experimental do Sensory Ethnography Lab (lembram-se de Leviathan?), que faz com que o documentário por vezes se aproxime de um cenário de manipulação e preparação, tal é a linguagem cinematográfica do filme. E isso é a melhor parte de City of the Sun.
Para quem lê a sinopse e vai à espera de encontrar aqui cenários pós-apocalípticos, cidades abandonadas à Chernobyl ou outros cataclismos dramáticos, pode tirar o cavalinho da chuva. City of the Sun limita-se a acompanhar de forma bastante voyeurista o dia-a-dia das pessoas daquela cidade, entrando na sua intimidade e limitando-se a registar, sem intervir. E se o vemos sem enfado de maior, também é certo que gostaríamos de saber mais sobre tudo aquilo que os rodeiam. E isso é algo que não paga mais do que um Cheeseburger.Título: City of the Sun
Realizador: Rati Oneli
Ano: 2017