| CRÍTICAS | O Professor e o Louco

A origem de O Professor e o Louco remonta ao ano da graça do Senhor de 1998, quando Mel Gibson se apaixonou pelo romance de Simon Winchester e adquiriu os seus direitos. Contudo, demoraria quase 20 anos a levar o filme a bom porto. E, para piorar ainda a situação, Gibson desentendeu-se com a produtora, andaram em tribunais e, no fim, renunciou por completo ao filme.

Também por isso, O Professor e o Louco é um glorioso fiasco. Afinal, o que esperar de um filme que se chama O Professor e o Louco, mas que não tem nenhum professor na história? O título é só uma espertalhona referência ao clássico de Robert Louis Stevenson, O Médico e o monstro, para lhe tentar dar algum prestígio.

O filme conta a história da criação do primeiro e mais completo diccionário de língua Inglesa, pelo intelectual James Murray (Mel Gibson). Perante a tarefa hercúlea, este e a sua equipa encontram um aliado inesperado: William Chester Minor (Sean Penn)m um antigo cirurgião e militar da Guerra Civil, que acredita ser pserguido por um desertor que marcou na face com um ferro em brasa e que está preso num manicómio depois de ter morto um homem por engano. Além de tudo isto, descobrimos ainda, lá para o meio do filme, que ele é também um intelectual e ávido devorador de livros.

Esse é o principal problema de O Professor e o Louco. É que nada parece ter a correspondência certa. As reacções são sempre desproporcionais aos acontecimentos (e sempre superlativas, claro), as personagens nunca se comportam de acordo com a construção do seu carácter e as expectativas alcançadas nunca são as prometidas. Mas os problemas não se ficam por aqui. O argumento e a edição são desleixados, já que, por mais do que uma vez, os eventos parecer surgir antes de acontecerem.

Filmado com o snobismo do filme de época que começou por almejar os Oscares, mas que terminou na dúvida se valia a pena estrear em sala ou não, O Professor e o Louco tem no seu elenco de luxo a única âncora onde se agarrar. Mel Gibson, Sean Penn com rédea solta para gritar e sofrer muito, Steve Coogan e Natalie Dormer: são eles que não permitem o barco andar à deriva, cheio de mais e presunçosos diálogos.

Além disso, a ambição do filme foi tão desmedida que o argumento está atafulhado de subplots. Há a viúva do homem que Penn matou que se vai apaixonar por ele(!), há a família negligenciada por Mel Gibson em detrimento o trabalho, há o médico de Penn que recorre a tratamentos de choque duvidosos, há os editores de Gibson que querem um livro mais comercial para se vender como pãezinhos quentes e que, por isso, lhe vão sabotar o trabalho… uff, até já estou cansado. Mel Gibson esperou duas décadas para fazer este filme – basta olhar para o tamanho da sua arba – e só apetece perguntar: a sério? 20 anos para um Cheeseburger?

Título: The Professor and the Madman
Realizador: Farhad Safinia
Ano: 2018

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