| CRÍTICAS | Judy

O biopic de Judy Garland, intitulado apenas Judy (o filme é sobre ela, apenas e só), debruça-se apenas sobre os últimos meses da vida da artista, nomeadamente durante a sua estadia prolongada nos palcos ingleses na tentativa de equilibrar as suas contas (já que nos Estados Unidos ninguém a contratava). No entanto, amiúde se abre em longos flashbacks para ir abraçar todo o legado atormentado de Garland, nomeadamente o seu tempo de child star da MGM e de todos os abusos de que foi alvo (comprimidos, dietas anorécticas, excesso de trabalho…), uma vez que esses traumas fazem parte do próprio património da actriz e cantora de Over the Rainbow.

Judy Garland foi uma alma atormentada, traumatizada por essa infância de abusos e perdida nos excessos do álcool, da droga e dos comprimidos, assim como pelo amor falhado (só casamentos foram quatro). Tudo isso levava a uma relação de amor e ódio com o palco. Por um lado, era ali que queria estar, onde era finalmente amada na totalidade e onde se sentia completa; por outro, era o palco o grande responsável pelos cacos da sua vida.

Pelo menos é isso que Judy procura transmitir, num biopic certinho, perto do filme de prestígio britânico, totalmente apoiado às costas de Renée Zellweger, num daqueles papeis que tem Oscar escrito em todo o lado. A actriz dá o corpo ao manifesto, literalmente, fazendo inclusive as cantorias. No mercado está já o disco da banda-sonora, com a própria Renée Zellweger a cantar. Um ano depois de Rami Malek ter ganho um Oscar a fazer playback, Zellweger prepara o seu caminho com categoria (e estrondo).

Há coisas em Judy que são bonitas pelas sua simplicidade. O flashback inicial, com Judy Garland criança no plateau da MGM a ser assediada (psicológica e fisicamente) por um LB Mayer passivoa-agressivo, e com o cenário de O Feiticeiro de Oz por trás num belo travelling sobre o estúdio é claramente uma delas. No entanto, Rupert Goold não é propriamente um tipo low-profile. A caminhar para o final, quando estamos quase convencidos de que vai resistir à tentação de utilizar o Over the Rainbow (essa bela canção arruinada pela sobrexposição) , o realizador não só mete Renée Zellweger a intrepreta-la, como é ali todo o climax dramático do filme, com final à Clube dos Poetas Mortos e tudo. Totalmente dispensável e um exemplo perfeito do meramente funcional que é este Double Cheeseburger.

Título: Judy
Realizador: Rupert Goold
Ano: 2019

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