| CRÍTICAS | O Espectro de Sharon Tate

Sabíamos que isto iria acontecer em 2019. Celebrou-se os 40 anos dos assassinatos Tate/LaBianca e, como tal, era inevitável que Hollywood não deixasse passar a efeméride em claro. E assim foi, surgindo filmes para todos os gostos: os bons, que partiram do caso para contar uma história (olá Era Uma Vez em… Hollywood); os assim assim e facilmente esquecíveis (alguém mencionou O Culto de Manson?); e os aproveitadores desavergonhados da desgraça alheia, que é o caso deste O Espectro de Sharon Tate.

Para quem andou a viver dentro de um buraco e não sabe o que foi o caso Tate/LaBianca, basta referir um nome: Charles Manson. O aspirante a estrela rock do flower power, que acreditava ser um cavaleiro do apocalipse e que os Beatles comunicavam com ele através de mensagens subliminares nas suas canções, enviou um grupo de jovens alienados da sua seita, a Família, numa série de assassinatos cruéis, que incluíram a actriz Sharon Tate, grávida de 8 meses de Roman Polanski – o que tornou tudo ainda mais macabro, dando a primeira facada no flower power. A facada derradeira que viria a enterrar de vez a década do amor livre seria dada um ano depois, em Altamont.

Enquanto que O Culto de Manson se centra em Charles Manson e Era Uma Vez em… Hollywood se foca no contexto socio-cultural da década, O Espectro de Sharon Tate debruça-se sobre, adivinharam!, Sharon Tate. Mas fa-lo da mesma forma que faz Tarantino, reimaginando uma realidade alternativa, em que o final possa ser diferente do da vida real. Só que o faz de forma super-atabalhoada e super-explicativa (não fôssemos nós não perceber), com muitos diálogos da treta que soam irritantemente a new age (ou a cenas holísticas, que no fundo é a mesma coisa).

Mas o pior é que o realizador Daniel Farrands se vai apropriar sem vergonha nenhuma de imagens reais (incluindo a recriação das últimas fotos conhecidas de Tate e dos amigos ou imagens de arquivo do seu casamento com Polanski, por exemplo) para explorar o sofrimento e a tragédia alheia. Mas mais insultuoso que isso é colocar Hillary Duff a fazer de Sharon Tate. É como se alguém contratasse o Seferovic para substituir o Messi no Barcelona. Entretanto parece que o próximo filme de Farrands vai ser sobre a morte da mulher de OJ Simpson, o que parece que ele está mesmo a especializar-se em espremer desgraça alheia para sacar uns trocos. Mais do que uma Hamburga de Choco, o que ele merecia mesmo era uma toalha encharcada pelas ventas.

Título: The Haunting of Sharon Tate
Realizador: Daniel Farrands
Ano: 2019

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