| CRÍTICAS | Barco Fantasma

A abertura de Barco Fantasma é uma das mais infames de todo o cinema de terror e vale todo o filme. No convés de um cruzeiro luxuoso, nos anos 60, os convidados dançam demoradamente num baile ao som dos ritmos latinos de uma bela cantora italiana, para logo de seguida acabarem todos mortos e decepados, num inesperado golpe gore e super-estilizado.

Corta para os dias de hoje e eis os heróis da picada: uma espécie de grupo de piratas contemporâneos, mas legais. Gabriel Byrne é o líder dessa quadrilha, que recuperam barcos afundados ou perdidos em alto-mar. E quando um aleatório tipo num bar (Desmond Harrington) lhes fala que encontrou um paquete à deriva, o grupo não consegue resistir. Afinal de contas, por direito náutico, o que é encontrado em águas internacionais é seu por decreto, no seguimento do velhinho achado não é roubado.

O paquete abandonado é então o Antonia Graza, o tal cruzeiro da primeira cena de Barco Fantasma. E se por fora é apenas um CGI muito mal-amanhado, limitado a dois ângulos, por dentro ganha uma inesperada credibilidade que disfarça muito bem o CGI. No entanto, para um barco perdido desde os anos 60, há ali coisas que não batem certo, seja um cigarro recém-fumado num cinzeiro ou um relógio digital junto ao leme.

Estamos então no território das casas assombradas, só que com um barco em vez de uma casa. Os filmes de fantasmas são um dos sub-géneros do terror mais complicados de abordar com eficácia, porque ou estão limitados a pessoas com lençóis ou a entidades invisíveis. Uma ou outra levam-nos invariavelmente a uma gestão de sustos e jump scenes, que se não forem geridos com savoir faire, tornam-se apenas numa sucessão de cenas reconhecíveis e pouco eficazes. Mas Steve Beck, que além deste só tem mais outro filme no currículo enquanto realizador (olá 13 Fantasmas), tem uma espécie de formação intensiva no filme de fantasmas e acaba por montar uma eficaz declinação do género.

Ou seja, Barco Fantasma acaba por ser bem melhor do que esperávamos, apesar de não ser tão bom como queríamos que fosse. Mas não se limita a ser apenas um empilhar de clichés e sustos fáceis, consegue criar ambiente, tem gore na quantidade certa e, apesar do twist final desnecessário, não ofende ninguém. E ainda entrega as rédeas do filme a Julianna Margulies, tornando-a num mulher de armas que nos diz que poderia ter dado uma heroína de acção interessante. Não é habitual termos para jantar um McBacon quando o menu são fantasmas a bordo, não é verdade?

Título: Ghost Ship
Realizador: Steve Beck
Ano: 2002

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