| CRÍTICAS | O Rei de Staten Island

Por mais que as traduções em português dos títulos dos seus filmes o tentem reduzir a um mero realizador de filmes adolescentes para ver com o cérebro desligado, Judd Apatow é mais do que isso. Bem mais do que isso. E não é por acaso que é um dos nomes mais importantes da comédia contemporânea de Hollywood.

Apatow tem pegado nos piores traumas do crescimento para realizar coming of ages dolorosos e emocionalmente cruéis, mas sempre disfarçados com um humor seco e circunstancial. Uma vez, a Sara Galvão deu-me a melhor descrição de sempre para os seus filmes: chico flicks para gajos. E isso tem servido para vários actores ganharem visibilidade e maturidade: Seth Rogen, Steve Carell ou Amy Schumer.

Agora é a vez de Pete Davidson. O Rei de Staten Island é o salto do actor do Saturday Night Live para protagonista do seu próprio filme, que é inclusive baseado na sua própria vida. Davidson é um jovem adulto de 24 anos, que vive ainda com a sua mãe (Marisa *suspiro* Tomei), sem grandes perspectivas de futuro além da ganza que fuma sem parar. No entanto, a pressão da sociedade é enorme: a do novo namorado da mãe (Bill Burr) para que saia de casa; a da irmã para que vá para a universidade; ou a da namorada (Bel Powley), para que assuma uma relação a sério.

Há ainda uma ligeira inclinação sobre o tema da saúde mental, mas nunca se percebe se é intencional ou casual. Isso porque, após um primeiro acto em que as personagens são apresentados (muito ao jeito do estilo de Judd Apatow), estas acabam por entrarem em loop. A coisa parece não se desenrolar e, às tantas, já estamos a prestar mais atenção a Bill Burr e à sua tentativa de criar algo com Marisa Tomei do que, propriamente, a Pete Davidson.

Às tantas, quando Apatow e Davidson se apercebem que o filme já vai em mais de hora e meia e eles ainda estão encravados no mesmo sítio, entram em desespero e disparam para todos os lados. Há um assalto que é a cena mais aleatória de sempre, personagens secundárias desaparecem para nunca mais voltar e cenas completamente inconsequentes vêem encher chouriços (como uma festa na universidade da irmã). O Rei de Staten Island tem momentos com graça, o tom sweet and sour que era de esperar e os temas certos, mas nunca sabe como os agarrar com deve de ser. Infelizmente, este Double Cheeseburger é bem capaz de ser o pior da carreira de Apatow aé há data.

Título: The King of Staten Island
Realizador: Judd Apatow
Ano: 2020

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