| CRÍTICAS | Volúpia do Crime

Depois do sucesso de Que Teria Acontecido a Baby Jane?, Joan Crawford ganhou uma nova vida artística em Hollywood, desta vez no cinema de terror. Poderia não ser a mesma coisa de antes, mas Crawford estava contente com a atenção que voltara a ter. Por isso, em 1964, não é de todo surpreendente que aceite entrar num filme de William Castle, o Hitchcock da série B. Afinal de contas, o terror tinha sido legitimado por Psico e Volúpia do Crime tinha argumento de Robert Bloch, o autor desse clássico de Alfred Hitchcock.

William Castle aposta tudo numa imagem: a de Joan Crawford de machado na mão, a brandi-lo que nem louca. E a verdade é que não é preciso muito mais que isso. Volúpia do Crime começa então precisamente por aí. Uma jovem Joan Crawford chega certo dia a casa de surpresa e apanha o marido na cama com outra. Alcança o machado da lenha lá fora e desfaz os dois em pedaços, numa cena icónica. Volúpia do Crime poderia terminar aqui, mas Castle decide filmar mais.

Joan Crawford é então internada, com um daqueles casacos muito apertadinhos que dão nome ao filme, no seu título original. Salta-se vinte anos e ei-la a deixar o manicómio e a ser acolhida na casa do irmão, onde vai reencontrar a filha (Diane Baker), que não vê desde então. É um regresso à vida social, com todos os traumas e recalcamentos que vinte anos enfiada num colete-de-forças pode provocar.

Dentro da sua fase de hagexploitation (filmes em que antigas actrizes de Hollywood, já envelhecida, interpretavam bruxas enlouquecidas), Volúpia do Crime é provavelmente o título em que Joan Crawford mais abusa do overacting. Não é por acaso que é considerado um clássico camp do bom mau cinema. No entanto, nos momentos em que está lúcida e a lutar para manter a calma, revela toda a sua compostura e integridade de grande actriz, mostrando que não era por estar a fazer um filme de William Castle que ia estar a fazer um frete.

O problema de Volúpia do Crime é que o seu argumento é demasiado esquemático e com um par de buracos no argumento. Um muito jovem George Kennedy, por exemplo, é uma personagem completamente desaproveitada, que passa ao lado do filme. Além disso, Com a Maldade na Alma, outro hag horror que estrearia poucos meses depois, utilizava a mesma história e o mesmo twist final, mas de forma bem mais sólida e consistente.

William Castle confiou em demasia no facto de ter uma estrela como Crawford de machado na mão e acabou por sobrevalorizar o resto do argumento. Infelizmente, Volúpia do Crime acaba por nem ser um shocker, nem ser um thriller psicológico, ficando ali na corda bamba, sem se decidir por onde quer ir. Mas caraças, já dissemos que tem Joan Crawford a bramir um machado e a decepar cabeças? Quão fixe é isso? É Double Cheeseburger-fixe.

Título: Strait-Jacket
Realizador: William Castle
Ano: 1964

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