| CRÍTICAS | Minari

O character development da personagem de Steven Yeun em The Walking Dead tem sido um reflexo do crescimento da sua carreira em Hollywood.O jovem Glen, que era apenas mais um dos membros do herói colectivo de quando começou The Walking Dead em 2010, normalmente usado como carne para canhão, foi crescendo e ganhando importância, tornando-se num dos mais acarinhados do público. Simultaneamente, a sua filmografia ia-se diversificando e ganhando cada vez mais lastro, primeiro com Okja, depois Em Chamas e, agora, uma nomeação ao Oscar com Minari.

Steven Yeun tem crescido connosco e agora vemo-lo como um adulto crescido, o pai da família sul-coreana que, algures nos anos 80, tenta estabelecer-se nos Estados Unidos. Minari é um épico familiar de longo fôlego, que faz pela comunidade sul-coreana na América o mesmo que fazem outros épicos como Era Uma Vez na América. Ou seja, dá-lhe uma voz no mito fundador dos Estados Unidos, terra dos livres, em busca daquilo que se convencionou chamar de o sonho americano.

Steven Yeun acaba de comprar um terreno e uma caravana no meio de uma terreola norte-americana para começar a sua própria quinta, cansado do trabalho numa fábrica a olhar para o cu de pintainhos, para separar os machos das fêmeas. A mulher (Yeri Han) tenta apoia-lo, mas não está nada satisfeita com o plano. Estão a investir as poupanças de uma vida naquilo que parece ser um buraco sem fundo e numa casa que nem é uma casa a sério.

O negócio vai avançando lentamente (com a ajuda de um Jesus freak, o óptimo Will Patton) e o casal chega a um compromisso: ela continuará a apoia-lo, mas hão de mandar vir da Coreia a avó para ajudar nas tarefas domésticas e a tratar das suas crianças. A meio, é introduzida então a avó (Youn Yuh-jung), uma espécie de personagem do Hayao Miyazaki, que vem conferir novas dinâmicas ao núcleo familiar e dar um outro nível de interpretação ao filme.

Além do drama familiar, Minari aborda, de forma mais ou menos consciente e de forma mais ou menos evidente, outros temas mais sensíveis, como o choque cultural e até o racismo sistémico. O realizador Lee Isaac Chung tenta fazer isto de forma cândida e observacional e parece ter andado a estudar o cinema mais contemplativo de Hirokazu Koreeda ou Kim Ki-Duk, mas apesar dos planos bonitos e de uma pertinente atenção ao pormenor, Minari acaba por se revelar mais convencional do que seria desejável. A coisa engonha ali para o meio e quando chega à grande redenção final, já não bate como deveria. Mas leva para casa um McChicken muito bonito, bem empratado e condimentado, pelo qual é impossível não se ter alguma simpatia.

Título: Minari
Realizador: Lee Isaac Chung
Ano: 2020

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