| CRÍTICAS | Riders of Justice

À medida que vai envelhecendo, Mads Mikkelsen vai-se tornando num actor de acção cada vez mais badass. Depois de já ter sido vilão num James Bond, num filme da Marvel e no franchise Star Wars, o dinamarquês agora torna-se num daqueles pais vingadores, do qual Ralph Fiennes se tornou no arquétipo perfeito após Busca Implacável, mas por onde já passou também Denzel Washington ou Joaquin Phoenix, por exemplo.

Riders of Justice é então o filme em que Mikkelsen, um soldado que passou tanto tempo no terreno que já não sabe como se comportar no ambiente doméstico ao regressar a casa, vai vingar a morte da mulher (a filha Andrea Heick Gadeberg escapou por pouco), morta numa explosão no metro às mãos de uma gangue de mafiosos, que procuravam liquidar um denunciante que viajava na mesma carruagem.

Riders of Justice é assim um vengeance movie, mas mais complexo do que isso. É que Mikkelsen vai ser alertado para o caso por um grupo de três nerds que estudam probabilidades (Nikolaj Lie Kaas, Lars Brygmann e Nicolas Bro), que são uma mistura dos Três Estarolas com os geeks dos Ficheiros Secretos, e que foram assim um ensemble inesperado, mas que se complementa. A equipa há de ser aumentada com a chegada de um prostituto ucraniano (Gustav Lindh) e do namorado da filha (Roland Møller), mas essa opção já é claramente a mais e começa a ser demasiado gente em casa a exigir tempo de antena. Obviamente que não há disponibilidade para tanta personagem secundária e, às tantas, o filme ressente-se desse peso.

Assim, Riders of Justice viaja entre o buddy movie e o filme de acção altamente estilizado e violento, quase como todos aqueles Tarantinos-wannabe que surgiram ao monte no pós-Pulp Fiction (olá Guy Ritchie, como estás?). É certo que todos gostamos de ver Mads Mikkelsen em modo máquina de matar, mas este não é o filme certo para isso.

Riders of Justice é bem mais interessante quando abranda para os seus personagens respirarem, podendo assim explorar os seus traumas (todos eles sofrem, seja com a perda de entes queridos, seja com o bullying com o fat shaming, por exemplo) e reflectir sobre a questão da família, dos laços familiares e até da desumanização da guerra. É ainda interessante a forma como explora a questão das probabilidades e das coincidências na vida, como se partisse da ideia do efeito-borboleta (lembram-se daquele filme homónimo que foi um fenómeno nos anos 90 (lol) e que agora já ninguém se lembra dele?) para reflectir sobre a ideia de destino.

Dispensável era o epílogo, com todo o ensemble reunido na noite de Natal, em modo família feliz (Mikkelsen com camisola de lã natalícia e tudo), como se, nas duas horas anteriores, não estivessem estado a matar uma série de pessoas com armas de fogo (incluindo um alvo errado e tudo). Será que a polícia dinamarquesa deixou-os ir a todos incólumes, porque os mortos eram “mauzões”? Mais questões erradas do que certas, neste Cheeseburger final.

Título: Retfærdighedens Ryttereiders
Realizador: Anders Thomas Jensen
Ano: 2021

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