| CRÍTICAS | Mar de Chamas 2

Existe uma secção de filmes muito pouco conhecida, composta por sequelas irrelevantes de títulos de sucesso, por terem sido feitas já quando ninguém se lembrava do original e que, por isso e por causa do baixo orçamento, acabaram por ir directamente para vídeo, sem passarem pela casa de partida e sem receberem 10 euros. Mar de Chamas 2 é o mais recente filme a fazer parte dessa secção, lançado em 2019, 27 anos(!) após o primeiro, e que pouca gente deu conta de ter sido feito.

No entanto, ao contrário de outros filmes desta secção (como Profissão: Duro 2 ou Dirty Dancing 2 – Noites de Havana), Mar de Chamas 2 consegue algo pouco comum neste tipo de sequelas: manter o elenco original e, por isso, conserva alguma réstia de esperança que não vá ser uma total perda de tempo. Assim, já não há Kurt Russell, porque morreu no final de Mar de Chamas, mas há o seu filho, Sean (Joe Anderson), que herdou o seu mau feitio e até usa o mesmo casaco icónico (aquele que dizia Bull atrás e o qual aparece a usar no poster do filme); o tio William Baldwin, que agora é o chefe dos bombeiros; e, pasme-se!, até Donald Sutherland, o pirómano louco que, surpresa!, continua a cumprir prisão perpétua.

Apesar de continuar a ser um filme sobre bombeiros, Mar de Chamas 2 já não é um filme de bombeiros, até porque Sean não é propriamente um soldado da paz daqueles que apaga fogos e resgata gatos do topo de árvores. Ele é aquele tipo que, no Mar de Chamas original, era interpretado por Robert de Niro: o investigador que procura indícios de fogo posto sempre que acontece um incêndio suspeito. Por isso, Mar de Chamas 2 é antes um thriller policial, com um esquema de corrupção manhoso, mísseis roubados e terroristas malvados.

O argumento de Mar de Chamas 2 é inchado e arrogante, como se fosse muito inteligente, mas tanta segurança não esconde um conjunto de lugares-comuns e escrita preguiçosa. Por isso, o que poderia ser segurança em si mesmo é apenas sobranceira, desmascarada pelas personagens secundárias que vão surgindo e desaparecendo de acordo com as exigências do avançar da história, uma sidekick (Alisha Bailey) que faz o mesmo que faz a mesinha de cabeceira do meu quarto – decoração – e apenas uns incêndios pequeninos, que mesmo assim não escondem os efeitos-especiais low budget.

E quando já está a encaminhar-se para o fim em velocidade cruzeiro, Mar de Chamas 2 joga a cartada do trauma familiar, que temíamos desde o início que viesse a acontecer. Numa cena ridícula, em que Joe Anderson cai de um edifício em chamas ao tentar salvar uma criança encurralada, William Baldwin aproveita para ter uma conversa séria e tirar um peso do peito (atenção, o edifício continua a arder e em risco de derrocada, atrás deles). É como se o realizador Gonzalo López-Gallego tivesse receio que, sem esta cena, Mar de Chamas 2 não fosse uma sequela oficial de Mar de Chamas. Tudo muito previsível, chapa quatro e com pouco interesse a mais do que um Happy Meal.

Título: Backdraft 2
Realizador: Gonzalo López-Gallego
Ano: 2019

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *